sábado, 1 de fevereiro de 2014

Contos dos Games #12 - Mortal Kovetous

  Onze tipos bem estranhos estavam naquele calabouço. Isso sem contar as caveiras penduradas por correntes nas paredes de pedra do lugar.
  O cheiro de morte impregnava o ar, mas aparentemente ninguém ali se importava com isso. Dos onze ali presentes, dez estavam sentados como em uma sala de aula. Entre esses dez, haviam dois ninjas encapuzados, um com roupa amarela e preta, e outro com roupa azul e preta. Também havia uma mulher loira e atraente com uma roupa de aeróbica estilo anos 80. Um homem semi-calvo, com uma cara mal encarada e uma placa de metal na metade direita do rosto. Outro homem com olhos azuis e brilhantes, uma espécie de pijama branco e chapéu de palha redondo. Havia também uma espécie de clone do Bruce Lee e outro que lembrava muito Jean Claude Van Damme, só que de óculos escuros. Também ali sentado estava um senhorzinho com barbas no estilo chinês. Porém, o ser mais estranho ali era sem dúvidas o brutamontes de mais de 2 metros de altura, cara horrenda, rabo de cavalo, quatro braços e usando apenas uma sunguinha preta e uma faixa vermelha na cintura.
  O único que estava em pé destoava completamente do visual dos demais. Usava calça jeans, camisa polo branca, boné e óculos com aros pretos grossos. Segurava uma prancheta e usava um crachá onde se podia ler “Game Designer”.
  Todos conversavam acaloradamente enquanto o homem em pé analisava a prancheta em sua mão. Assinalava aqui e ali com uma caneta esferográfica azul. Por fim ele falou:
 — Pessoal silêncio, por favor. — todos se calaram — Vamos começar a reunião, ok?
  Todos balançaram a cabeça afirmativamente.
  O homem de crachá continuou:
 — Já tivemos várias reuniões iguais a essa, certo? Já definimos os Golpes Básicos de cada um...
 — Mas é tudo igual! —interrompeu o mal encarado com a placa de metal na cara.
 — Sim Kano, os Golpes Básicos são todos iguais. Já conversamos sobre isso, certo? — o homem suspirou antes de prosseguir: — Já falamos também sobre os Movimentos Especiais...
 — Yeah! — gritou o clone de Van Damme — O Soco no Saco é o melhor!
 — Johnny, deixe-me term...
 — Cala a boca Cage, meu Golpe Tesoura é bem melhor! — gritou no outro canto a mulher com roupa de aeróbica.
 — Ah Sonya, me poupe! Meu Flying Kick é mais legal! — falou com voz fina o Bruce Lee genérico — E seu golpe tá mais para Chave de Você-Sabe-o-Quê.
 — Ah seu chinês afetado, você me paga! — gritou Sonya se levantando.
 — Calem a boca! — gritou o Game Designer — ou excluo vocês do jogo. E vocês sabem que posso muito bem fazer isso!
  Fez-se o silêncio. O Game Designer então continuou:
 — Como vocês sabem, nosso jogo será um jogo de luta comum, ok? Porém para batermos de frente com o Street Fighter II, vamos ter um...
 — Joguinho mais sem graça. — interrompeu o ninja com o traje preto e amarelo.
  O Game Designer falou:
 — Scorpion, por favor me deixe...
 — Concordo com meu amigo Scorpion. — interrompeu dessa vez o ninja com o traje preto e azul — Esse tal de Street Fighter será fácil de ser batido. Onde já se viu um jogo de luta com dois personagens praticamente idênticos, somente com as cores das roupas diferentes. Que falta de criatividade.
 — É isso aí, Sub! — disse o outro ninja com entusiasmo.
  O Game Designer suspirou, e com forçada calma disse:
 — Scorpion e Sub-Zero, será que vocês podem CALAR A BOCA! Por favor!
  Os dois ninjas se entreolharam e se calaram.
  O Game Designer massageou as têmporas e prosseguiu:
 — Como eu estava dizendo, teremos um diferencial para tentarmos bater de frente com Street Fighter II, e esse diferencial se chamará Fatality, tudo bem?
 — E o que é isso? — perguntou o homem de olhos brilhantes e chapéu de palha redondo.
 — Funciona da seguinte forma, Raiden — respondeu o Game Designer — quando um personagem vencer dois rounds, o perdedor se levantará novamente, porém ele estará vulnerável, zonzo. Na tela aparecerá a seguinte mensagem para o jogador: “Finish Him”. aí o vencedor terá a chance de matar o derrotado de uma forma bem violenta. — terminou a frase com um sorriso maldoso na face.
  O Bruce Lee genérico esfregou as mãos e sorrindo disse com sua voz esganiçada:
 — Parece legal.
  O Game Designer pareceu ficar sem graça, e com um sorriso amarelo disse:
 — E é mesmo Liu Kang. — olhou para os outros personagens ali sentados — Mas os Fatalitys só estarão disponíveis para os personagens selecionáveis para o jogador, certo? Sendo assim o Sr. Shang Tsung, — acenou para o velho de barba longa ao estilo chinês — e o nosso simpático amigo Goro. — sorriu para o gigante de quatro braços — Tudo bem para vocês dois?
  O velho se transformou magicamente em Johnny Cage, sorriu de forma canastrona e deu um jóia.
  O verdadeiro Johnny Cage resmungou baixinho para Sonya:
 — Que velho exibido. Meu sorriso é melhor que esse.
  Shang Tsung ouviu o resmungo, e automaticamente mudou para a forma do gigante Goro. Em seguida se colocou em pé e começou a caminhar na direção de Johnny Cage.
  Este por sua vez se levantou falando:
 — Calmo aí velhinho. Desculpe.
  O Game Designer balançou a cabeça de olhos fechados. Antes que ocorresse um Fatality ali no calabouço ele gritou:
 — PAREM!!!
  Shang Tsung ainda na forma de Goro parou e olhou para o homem com a prancheta, caminhou lentamente para sua cadeira e se sentou em silêncio voltando a sua forma original. Johnny Cage também se sentou em silêncio.
 — Continuando, está tudo bem para você também, não está Goro?
  O gigante de quatro braços permaneceu sentado, apenas olhou ameaçadoramente para o Game Designer de baixo para cima.
 — Você nunca sorri Goro? — perguntou o homem.
  De forma bizarra, Goro tentou esboçar um sorriso, mas apenas conseguiu deixar sua cara mais assustadora. 
 — Deixa pra lá grandão.
  Kano cochichou no ouvido de Scorpion:
 — Bicho estranho esse aí, hein?
 — Esse ia fazer sucesso lá na minha área do Inferno.
  Os dois riram baixinho até Goro olhar para ambos com a feição entediada de quem já havia passado por isso muitas vezes. Os sorrisos pararam imediatamente.
  O Game Designer alheio ao bullyng sofrido por Goro olhou para a prancheta, escreveu alguma coisa ali e falou:
 — Então vamos ao que interessa. Estou aqui para comunicar a cada um de vocês quais são seus Fatalitys nos jogo. Lembrando que os Fatalitys já foram escolhidos e programados. Ou seja, não haverá mudança. Ok?
  Liu Kang só faltava sair pulando, tamanha era sua empolgação. O Game Designer deu uma olhadela receosa para o chinês e em seguida para a prancheta.
 — Antes de começar, só um detalhe, no estágio The Pit todos vocês poderão aplicar um gancho básico no oponente quando a frase Finish Him aparecer. Sem exceção, se tomar um gancho em The Pit no final da luta, vai cair nos espinhos que ficam embaixo da ponte. Ou seja, é um Fatality padrão para cada um de vocês, ok?
  Todos concordaram entusiasmados. O homem olhou novamente para a prancheta e continuou:
 — Vamos à descrição dos Fatalitys. Kano, no seu Fatality você vai enfiar a mão no peito do inimigo derrotado e vai arrancar seu coração. Em seguida vai levantar a mão com o coração ainda batendo.
 — Tá aí! Gostei. — disse Kano coçando o pescoço com uma faca enorme.
 — Que bom que gostou. — continuou o Game Designer — Raiden, no seu Fatality você lançará uma descarga elétrica na cabeça do adversário que após alguns instantes vai explodir. Claro, isso tudo com muito sangue jorrando para o ar e caindo no chão.
  Os olhos de Raiden brilharam ainda mais e sorrindo ele disse:
 — Ótimo. Simplesmente perfeito.
 — Mas espera um pouco, — interrompeu Kano — no meu Fatality vai ter sangue também?
 — Vai Kano. — respondeu o Game Designer — Porém menos que o do Raiden. — vendo a cara de desgosto que Kano fez, se apressou em acrescentar: — Entenda Kano, no Fatality do Raiden ele explode a cabeça do inimigo, ou seja, tem que ter muito mais sangue, ok? Na verdade, mesmo sendo muito legais, alguns Fatalitys nem terão sangue. O dele pode até ser o mais sangrento e...
  Um burburinho de reclamações começou entre os personagens. O Game Designer travou os dentes em fúria e antes que aquilo se transformasse numa discussão fora de controle, falou num tom um pouco mais alto:
 — E isso não é por que ele é preferido ou coisa do tipo! Isso ocorre apenas pela característica do Fatality dele. Não existe favorito aqui. Todos os Fatalitys foram distribuídos pensando na característica de vocês. Não importa a quantidade sangue, ok?
  Todos, mesmo que desconfiados, se acalmaram. Ele então continuou:
 — Sonya, o seu Fatality, por exemplo, é um dos que não terão sangue. — a mulher revirou os olhos em desaprovação — Mas ele é muito legal também. É até humilhante de certa forma. Você soprará um beijo na direção do inimigo derrotado. Mas não será um beijo comum, será um beijo de fogo. E quando esse beijo atingir o inimigo, ele será consumido em fogo restando apenas o esqueleto dele de joelhos. Gostou?
 — É. Não é dos piores.
 — Mulheres. — falou Liu Kang com a voz fina.
 — Ah, vira homem seu maldito chinês castrati.
  Liu Kang se levantou bufando, e gritou com a voz mais estridente do que o normal:
 — Eu não sou castrati. Isso é culpa dos meus hormônios, droga. — se sentou em seguida fazendo biquinho — Tô cansado disso. Todos vocês ficam pegando no meu pé por causa da minha voz. Eu não tenho culpa de ser assim. — e começou a chorar.
  O Game Designer alisou a testa suspirando.
  Johnny Cage se levantou e caminhou até Liu Kang, se agachou de frente a cadeira do chinês e disse condescendentemente:
 — Hey Liu, fica de boa cara. A Sonya falou da boca para fora. Fica assim não.
  Liu Kang fungou e enxugou as lágrimas.
 — Valeu Johnny.
 — Relaxa. — Johnny Cage se levantou — Só uma coisa Liu, hormônios femininos demais causam dependência cara.
  Um Liu Kang furioso desferiu um gancho, que só não acertou Johnny Cage por que este deu um salto mortal para trás girando cinco vezes no ar antes de tocar os pés no chão.
  Todos riram descontroladamente, inclusive o Game Designer. Porém percebendo que a briga poderia ficar séria, teve mais uma vez que gritar:
 — PELO AMOR DE DEUS, SE COMPORTEM VOCÊS DOIS!!
  Liu Kang olhou emburrado para o homem, em seguida deu um olhar mortal (sem trocadilhos) para Johnny Cage, e se sentou. Johnny se sentou sorrindo.
  O Game Designer falou duramente:
 — Vocês parecem crianças. Johnny Cage pare de causar confusões. E Liu Kang; por favor, deixe de ser tão infantil e sensível. Ok?
 — Ok. — disse Johnny Cage.
 — Tá bom. — disse Liu Kang com a voz embargada.
  O homem com a cara mais fechada que pôde fazer olhou para Johnny Cage  e falou:
 —No seu Fatality Johnny, você irá desferir um gancho tão violento no queixo do adversário, que separará a cabeça do tronco. Também haverá muito sangue. — viu que Johnny Cage ia falar algo e concluiu: — De você, não quero ouvir mais nada hoje, ok?
  O outro apenas balançou a cabeça sem graça.
  — Scorpion, no seu Fatality você vai tirar sua máscara de ninja e...
 — Vou ter que revelar minha identidade? — interrompeu Scorpion.
 — Como assim? — questionou o Game Designer.
 — Se eu tirar minha máscara, eu vou revelar minha identidade. Se eu uso máscara é por um bom motivo, oras. Então não acho uma boa ideia eu tirar a máscara.
  Sub-Zero acrescentou:
 — Acho justo o que ele diz.
 — Valeu de novo Sub. — disse Scorpion.
  O Game Designer mordeu a prancheta e arrancou um pedaço dela.
 — Scorpion, você não é um super-herói. Você é a droga de um ninja! Um ninja! Entendeu?
  O ninja em questão respondeu:
 — Mas não é por que eu sou um ninja que tenho que mostrar o rosto.
  Olhando para o céu, talvez pedindo paciência para alguma entidade do Outworld, o Game Designer grunhiu:
 — Caro Scorpion, deixe-me  lembrá-lo que você não tem rosto, lembra? VOCÊ É UMA MALDITA CAVEIRA DO INFERNO! UM CAVEIRA!!!!! OK?
 — Ah! É mesmo né. — soltou um risinho — Então tudo bem.
 — ENTÃO CALE ESTA MALDITA MANDÍBULA E ME ESCUTE SEM MAIS MALDITAS INTERRUPÇÕES, OK? APÓS RETIRAR SUA MALDITA MÁSCARA, VOCÊ IRÁ CUSPIR SEU MALDITO FOGO NO MALDITO ADVERSÁRIO QUE VAI CARBONIZAR, RESTANDO APENAS O MALDITO ESQUELETO DELE!! COMPREENDIDO?
  Scorpion não respondeu, mas pareceu gostar do seu Fatality.
  O Game Designer ficou encarando Scorpion por alguns instantes, fechou os olhos e voltou a falar:
 — Sub-Zero...
  Antes que o homem terminasse de falar, Sub-Zero o interrompeu:
 — Presente.
 — Pois é. Eu estou vendo. — respondeu esbugalhando os olhos na direção do ninja de azul— Seu Fatality será da seguinte forma, você vai segurar a cabeça do derrotado e vai puxá-la para cima, arrancando-a junto com a espinha do pobre coitado. Em seguida vai ficar segurando a cabeça com a espinha dorsal pendurada e pingando sangue.
  Sub-Zero balançou a cabeça afirmativamente, mas questionou:
 — Ok, mas eu vou simplesmente puxar a cabeça para cima e ela... vai se soltar do tronco?
 — Er... sim. — respondeu o Game Designer.
 — Não vai haver nenhum corte, pancada, congelamento? Simplesmente a cabeça, tipo, sai? Sem resistência dela ou da coluna?
  Nitidamente irritado, o Game Designer responde:
 — É isso mesmo Sub-Zero. Por quê?
 —Ora essa, por que isso é impossível. — respondeu o ninja — Se eu puxo a cabeça de uma pessoa, ela não se solta magicamente do tronco, ela traz consigo o tronco. Ainda mais com a espinha dorsal.
  Scorpion falou:
 — Arrasou Sub. Toca aqui!
  Os dois se levantaram e fizeram um High Five.
 — Pensando bem... — entrou na conversa Johnny Cage — um gancho também não deveria arrancar a cabeça do inimigo. Fisicamente falando, o corpo subiria junto com a cabeça.
  Kano, que até aquele momento havia falado pouco observa:
 — E por um acaso, minhas mãos terão alguma lâmina ou canivete? Pense comigo, como eu vou e enfio a mão no peito do oponente, e o pior, como o coração continua batendo?
  Uma nova discussão se iniciava, e o Game Designer completamente fora de si se preparava para dar mais um de seus gritos quando uma voz fina e esganiçada sobressaiu a todas as outras:
 —PAREM DE RECLAMAR, BANDO DE IDIOTAS!
  Todos, inclusive o Game Designer olharam assustados para Liu Kang, o autor do grito. Mesmo com voz fina o grito foi bastante ameaçador. Diante do silêncio e da surpresa de todos, Liu Kang, que agora estava em pé, continuou:
 — Ele está tentando falar o Fatality de cada um aqui, mas vocês ficam discutindo por besteira. Que se dane se o gancho arranca a cabeça do inimigo. Pro inferno se com uma puxadela a cabeça do derrotado se separa do tronco. E não importa se sua mão consegue perfurar o peito do oponente ou não. E sabem por que isso tudo não é importante? — ninguém respondeu — Por que é legal! Cada um aqui tem um Fatality legal pra caramba, menos a loira oxigenada com roupinha de ginástica — Sonya tentou interromper, mas Liu Kang continuou: — Ou seja, o que importa mesmo é que o jogo vai ser um sucesso, e que os Fatalitys serão as coisas mais legais da história dos vídeo-games.
  Ninguém ousou contradizer, ou por medo ou por que haviam cansado de ouvir a voz irritante do chinês. Ele então se virou para o Game Designer e perguntou:
 — E por falar em Fatalitys, como vai ser o meu?
  O homem pareceu congelar (sem trocadilhos com o Sub-Zero, por favor) por alguns segundos, e quando voltou a si, falou:
 — Então Liu Kang, sobre seu Fatality... eu tenho realmente algo para te falar:
 — Então fale, pois estou me remoendo.
 — Pois então, como é que eu falo isso, er... você não vai ter Fatality.
  Liu Kang sorriu incrédulo, e perguntou:
 — Como assim? Não entendi.
 — Tipo assim, você vai ter uma finalização no final da luta, mas... não é bem um Fatality.
  Liu Kang cerrou os olhos e com sua voz fina, porém ameaçadora disse:
 —Que finalização?
  O Game Designer tentou colocar em sua voz toda empolgação possível, mas ficou parecendo mais desespero mesmo:
 — A mais legal de todas, na minha opinião. Você dá um salto irado para frente, girando os pés no ar e acertando a cara do inimigo. Show né? E depois dá um gancho superpoderoso, que faz o inimigo voar tão alto que some da tela.
 — E o que acontece depois? Ele perde a perna? Os braços? Os olhos? Pega fogo? Explode?
 — Depois, err... — gaguejou o Game Designer — Depois o inimigo cai no chão.
 — Morto? — perguntou um Liu Kang com a voz cada vez mais fina e cada vez mais assustadora.
 — Não morto, mas acredito que em coma. Mas no estágio The Pit ele vai cair até os espinhos, e aí morre. Sem dúvida aí ele morre. Uma bela morte.
 Liu Kang caminhou na direção do Game Designer dizendo:
 — Meu amigo, se eu me lembro, esse é o Fatality padrão para todos os personagens em The Pit. 
  O Game Designer deu um passo para trás falando:
 — S-s-sim. Mas se acalme Liu Kang. Isso foi uma escolha de roteiro. No jogo, você é um guerreiro honrado, e não aceitou participar da carnificina do Mortal Kombat. Ok?
  Liu Kang estava agora cara a cara com o Game Designer, que havia dado passos para trás até dar de costas com um esqueleto que estava pendurado em uma das paredes do calabouço.
  Liu Kang falou:
 — Roteiro? Que roteiro? Estamos em um jogo de luta cacete! Ninguém liga para o roteiro. — segurou o homem pelo colarinho e o levantou derrubando o esqueleto — O negócio é o seguinte, EU QUERO UM FATALITY!! 
 — Mas Liu Kang, — tentou falar o homem — já está tudo programado, não tem como inserir um Fatality para você no jogo.
 —Não me importa! Todo mundo aqui tem Fatality. — olhou para Shang Tsung e Goro — Vocês também não tem né, desculpem. — olhou novamente para o Game Designer — Pelo menos os selecionáveis têm, E EU SOU UM PERSONAGEM SELECIONÁVEL. ENTÃO EU QUERO MEU FATALITY!!! NÃO ME IMPORTA O ROTEIRO... EU QUERO UM FATALITY!!!
  Liu Kang jogou o game Designer no chão. O homem se levantou cambaleante e olhou assustado para todos os presentes naquele calabouço e percebeu no olhar de cada um que ninguém iria interferir. 
  Voltou-se novamente para Liu Kang e tentando retomar autoridade disse:
 — Olha aqui Liu Kang, sente-se no seu lugar, se não...
 — Se não o que? — disse o chinês dando um passo ameaçador na direção do Game Designer.
 — Se não vou te remover do jogo.
  Liu Kang riu e o homem continuou:
 — Estou falando sério Liu Kang. Senta logo no seu lugar, pois NÃO EXISTE FATALITY PARA VOCÊ!!!
  Liu Kang arqueou as pernas na sua clássica pose de vitória e disse:
 — Não tem Fatality para mim é?
  O calabouço que já era escuro ficou ainda mais escuro. Todos se levantaram assustados, exceto Goro e Shang Tsung. Este por sua vez falou com uma voz empostada:
 — Finish Him!
  O Game Designer, sabendo que algo muito ruim estava prestes a acontecer disparou correndo. Liu Kang juntou as mãos e baixou a cabeça.
  Por alguns instantes nada ocorreu e o Game Designer continuou correndo. Porém sem explicação alguma, uma máquina de árcade despencou sobre o homem esmagando-o. O ultimo grito de agonia do Game Designer ecoou pelo calabouço. A violência do impacto foi tanta que sangue voou para todos os lados, respingando em todos no calabouço.
  Mais uma vez Shang Tsung falou:
 — Flawless Victory. Fatality.
 Alguns segundos se passaram e a iluminação no ambiente voltou ao normal. Assim como todos ali, Liu Kang estava respingado de sangue. Saiu de sua pose clássica de vitória e olhou com os olhos brilhando para os outros:
 — E aí, gostaram?
  Eles se olharam, sem saber o que responder.
  Então Johnny Cage decidiu falar a verdade:
 — Uma máquina de árcade como Fatality? Olha Liu, acho que não.
 — Mas Johnny, é legal.
 — Não Liu, não é legal.
  Liu Kang deixou os ombros caírem.
  Johnny Cage caminhou até ele e disse:
 — Pensa melhor cara. Tipo, você não luta kung fu? Então o que você acha de um dragão?
 — Um dragão? — um sorriso infantil se abriu no rosto de Liu Kang — Um dragão é legal...
 — E aí, tô atrasado? — disse alguém interrompendo os dois.
  Todos ficaram procurando de onde vinha a voz.
  Raiden perguntou:
 — Quem está aí?
  A voz respondeu:
 — Ah, desculpem. Esqueci de ficar visível.
  Próximo a onde estavam Sub-Zero e Scorpion um terceiro ninja apareceu. Com roupas negras e verdes.
 Sub-Zero e Scorpion gritaram juntos:
 — Reptile!!
 Scorpion falou:
 — Mas você nunca chega na hora. Mas que bom que você veio verdão.
  Então os três se calaram e ficaram se olhando, como se houvesse algum segredo entre eles.
  O silêncio só foi quebrado quando Sub-Zero gritou animadamente:
 — Abraço Grupal Ninja!
  E os três ninjas se lançaram num abraço em grupo, rindo e gritando alegremente.
  Goro afundou o rosto em duas de suas mãos e disse em tom de lamentação:
 — E ainda dizem que sou o estranho aqui.

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