terça-feira, 1 de abril de 2014

Contos dos Games #14 - GTA - Grandes Trapalhadas Anormais - Parte II

  Como vocês já devem saber, meu nome é Nolan P. Character.
  Vivo em Los Santos há alguns anos. Porém uma onda de crimes tomou conta da cidade nos últimos meses. Assaltos ousados, perseguições cinematográficas e assassinatos banais.
  E eu aqui, vivendo nesta loucura. 
  Semanas atrás, no mesmo dia que recebi alta do hospital após ficar um mês internado depois de ser atropelado por um jet-ski, um helicóptero caiu na casa de um dos meus vizinhos matando todos que estavam ali, exceto o cachorro que estava no quintal. Outros dois helicópteros haviam caído instantes antes próximos a minha rua. E eu acompanhei tudo ao vivo pelo Telejornal.
  Não sei se tinha dito isso, mas eu amo todo e qualquer tipo de veículo de noticia. Sou viciado. E provavelmente por isso ando tendo crises de pânico, já que as ultimas noticias de Los Santos são no mínimo assustadoras.
  Não tive tempo de falar para vocês, mas sou gerente de uma agência bancária no Centro de Los Santos. Não é a melhor profissão do mundo, mas não me sinto a vontade para reclamar. Tenho um bom carro, boas roupas, uma boa casa e moro em um bom bairro. Só não é bom quando helicópteros despencam em seus quintais.
  Claro que não tenho muita emoção em meu trabalho. Ele é maçante e estressante. E não tenho muitas expectativas de crescimento. Mas como disse, eu não me sinto a vontade para reclamar já que vivo bem. Além do mais, para quê mais emoção se ando tendo essas malditas crises de pânico.
  Então aqui estou eu; pronto para mais um dia de trabalho.
  O trânsito de Los Santos é em determinados momentos extremamente confuso. Muita gente não respeita os semáforos, fazem conversões proibidas e até trafegam nas calçadas. E a polícia ignora toda e qualquer transgressão das leis de trânsito; contanto que você não atropele ninguém e nem colida levemente em uma das viaturas. Pois se isso ocorre, eles mandam até o exército atrás de você. Mas hoje estava tudo na mais estranha normalidade.
  Fui o primeiro a chegar à agência, e graças a isso o raro silêncio reinava no ambiente. Aproveitei para ler algumas noticias policiais pelo meu smartphone.
  Como sempre o caos reinou na noite anterior. Desta vez um homem sozinho havia sequestrado um avião de carga em uma ação impressionante em pleno ar, utilizando-se apenas de algumas armas e um avião de pequeno porte.  Alguns minutos depois o avião de carga despencou no deserto. Corpos de funcionários da empresa foram encontrados, mas aparentemente o corpo do criminoso responsável não.
  Desliguei o celular e fui pegar o café horrível da máquina automática. A cada dia eu tinha mais medo de sair nas ruas de Los Santos, mas eu tinha que trabalhar, então eu enfrentava o medo.
  Meia hora depois todos os funcionário já estavam em seus postos, e a agência abriu para o atendimento. Mais um dia maçante de trabalho.

  As 16hrs como de praxe a agência fechou as portas para o atendimento ao público. Atendemos os últimos clientes que ainda estavam na fila e outros funcionários se encarregaram dos depósitos em envelopes e cheques. Terminei algumas tarefas administrativas, e então às 18Hrs encerrei meu expediente.
  Seguindo minha rotina, entrei no meu carro, massageei as têmporas, dei a partida e saí do estacionamento para funcionários da agência.
  Estava uma noite agradável, com muita gente andando pelas calçadas do centro da cidade. Às vezes Los Santos era um paraíso, mas ultimamente a cidade era uma filial do inferno. Pelo menos para mim.
  Parei num semáforo que estava no vermelho e um furgão preto que vinha segurando o trânsito parou a minha frente. Não dei importância quando uma motocicleta verde parou do meu lado na esquerda, mesmo ainda havendo mais espaço a frente. Naquele momento, não me atentei a este fato.
  Aproveitei que estava parado para trocar a faixa do CD.
  Foi quando ouvi:
— Hey!
  Me levantei e olhei pela janela. O condutor da motocicleta, um negro forte e mal encarado fazia algum sinal para mim que eu não consegui entender.
  Quando abri a boca para responder me lembrei dele. Era um dos dois que estavam conversando na calçada de casa no dia em que os helicópteros caíram. Lembro-me bem do cachorro dele com instinto assassino.
  Engatei a primeira marcha para tentar fugir, mas ao olhar para frente vi que as portas traseiras do baú do furgão estavam abertas.
  Meu coração congelou ao ver dois homens armados descendo do veículo.
  Ou eu estava ficando louco, ou eu estava reconhecendo também os dois homens que desceram do furgão. Um era o maluco que havia causado o caos no cruzamento no mesmo dia em que os helicópteros caíram. Além de ser o piloto do helicóptero que fugia da policia naquele mesmo dia.
  E o outro era o que operava a .50 e que derrubou os helicópteros da policia e da reportagem.
  Olhei para a esquerda e agora o condutor da motocicleta apontava uma pistola para mim. Todos os músculos do meu corpo se retesaram.
  Os outros dois homens que haviam descido do furgão vieram na direção do meu carro, um de cada lado.
  De uma forma estranha me senti um pouco aliviado, pois o que veio para o meu lado era o mais bem vestido. Claro que ele também era o homem que sorria após abater três helicópteros.
  O que foi para o outro lado usava roupas surradas e sujas e tinha a cara mais psicótica que eu já tinha visto. Tudo bem que foram suas roupas que me incomodaram, mas é claro que eu não esquecia que ele costumava causar pânico em cruzamentos pela cidade.
  Não sei se é preconceito ou instinto, mas prefiro um maluco bem vestido a um psicótico maltrapilho.
 — Para o banco do passageiro. — disse o negro da motocicleta.
  Obedeci sem pensar, e com isso deixei o carro morrer ao mudar de banco.
  Não entendia ainda o que estava acontecendo, pois com certeza isso não era um simples roubo de carro. Havia algo mais.
  O furgão partiu com as portas traseiras ainda abertas, seguido pelo homem na motocicleta verde.
  O mais bem vestido abriu a porta do motorista e sentou-se enquanto o psicótico se sentou no banco traseiro logo atrás de mim.
  Impotente, vi um estranho colocar meu carro em ponto morto, dar a partida, engatar a primeira marcha e seguir para algum lugar que provavelmente seria onde eu seria morto.
  Tentei controlar meu ataque de pânico enquanto os dois pareciam me ignorar.
  Nenhum dos dois falou nada até que o carro saísse da avenida principal. O homem que estava dirigindo falou:
 — Qual o seu nome?
  Eu permaneci imóvel tentando respirar.
 — Qual o seu nome, amigo? — ele insistiu um pouco impaciente.
  Continuei em silêncio.
  Ele então olhou pelo retrovisor para o homem que estava sentado atrás de mim e disse:
 — T!
  Não tive muito tempo para pensar no que significava a letra T, pois logo em seguida uma pancada seca na minha nuca me deixou atordoado.
  O psicótico atrás de mim gritou:
 — Você é surdo, Filho da @#$*???
  Levei a mão a nuca e senti o sangue morno que empapou meu cabelo. O homem atrás de mim estava armado e havia acabado de me dar uma coronhada.
  Aquele que dirigia meu carro falou:
 — Pra que isso, T? Não precisa agredir o cara! — olhou amigavelmente para mim — Me desculpe pelo meu amigo, ele tende a perder o controle por besteira. Mas seria mais fácil se você cooperasse. Para quê arriscar?
  Decidi cooperar:
 — Meu nome é Nolan.
  O homem que estava dirigindo sorriu para mim e disse:
 —Prazer Nolan, meu nome é... bem, pode me chamar de M. — ele sorriu — Bem Nolan, você deve estar se perguntando por que estamos no seu carro. É simples, você foi sequestrado. Se bem que acredito que já tenha percebido isso. A verdadeira pergunta é: Por que te sequestramos?
 Mesmo com a dor lancinante, consegui pensar um pouco. Ainda que fosse uma pergunta retórica, respondi:
 — O banco. Vocês pretendem me usar para assaltar o banco.
  O homem atrás de mim socou o teto do meu carro e gritou
 —Oh yeah Michael!!! Esse desgraçado é esperto!
 — P*#@ que pariu T, você é idiota? Acabou de falar meu nome, p*##@!!
 — Ah Michael, fica calmo!
 — Claro TREVOR!!! FICAREI CALMO! Se formos presos, será graças a sua genialidade!!!!
 — Seu gordo do c@##@$*, tá me chamando de burro?!?!
 —Será que estou, TREVOR!? Ou prefere que eu explique a você o que é sarcasmo?
  O tal de Trevor, que estava atrás de mim, apontou a arma para o tal de Michael e gritou:
 — AGORA VOCÊ PASSOU DOS LIMITES MICHAEL!
  Michael então tirou as mãos do volante e pisou fundo no acelerador. Foi então que percebi que estávamos em uma autoestrada.
  Pelo jeito eu ia morrer num acidente de trânsito, e não baleado. Não sei se isso me confortava.
  Michael olhou para trás e disse:
 — Vamos lá Trevor, me mate!!! Realize esse seu desejo mórbido e depois se masturbe olhando para o espelho, seu doente!
 — Não jogue meus fetiches na minha cara, Michael! Isso é golpe baixo!
  O carro estava agora a 190km/h! Vi mais a frente uma curva fechada! O desespero tomou conta de mim.
  Enquanto isso, os dois não paravam de discutir. Eu lutava para respirar.
 — Michael, eu te amava cara! Você era um herói para mim!!! E agora você se tornou esse babaca.
 — Cala essa boca suja, T!!! Você não ama nem seu pênis!!! Quantas doenças venéreas você já teve?
 — Não te interessa seu p*#*!!!
  E a curva cada vez mais próxima.
  Foi quando, não sei como, num rompante de fúria eu dei uma cotovelada no antebraço de Trevor. Com o golpe ele soltou a pistola que rodopiou no ar. Antes que ela caísse no assoalho do carro eu a peguei no ar. Ainda em meio a confusão e surpresa dele, acertei-lhe uma coronhada no nariz. Ouvi o barulho da cartilagem se soltando do osso com a pancada. Em seguida encostei o cano da pistola na bochecha de Michael e gritei num tom de voz desconhecido até para mim:
 — Calem suas malditas bocas seus filhos da uma p%&@!!!! E Michael, vamos lá, dirija a droga do meu carro!
  Ele pegou o volante e pisou no freio, conseguindo então fazer a curva. Apontei a pistola para o Trevor e falei com falsa calma:
 — E você, seu psicóticuzinho de merda! Qual o seu problema? Você sente algum prazer mórbido em agredir seus reféns?!
  Para minha surpresa, eu estava conseguindo respirar normalmente. Sentia a adrenalina nas minhas veias, e estava adorando a sensação.
  O tal de Trevor tentava inutilmente recolocar seu nariz no lugar enquanto o sangue escorria pelas narinas.
  Porém enquanto eu apontava a pistola para ele, Michael sem que eu percebesse sacou também uma arma, apontando-a para mim.
  Então se fez um dilema: Eu apontava a pistola para o Trevor e o Michael apontava sua arma para mim.
  Me senti em um filme de Tarantino.
  Michael foi o primeiro a falar:
 — Se acalme Nolan, ninguém quer morrer aqui, não é mesmo?
  Eu mantive a pistola apontada para Trevor, mas percebi que meu acesso de fúria não me ajudou muito. Eles eram dois e ambos eram claramente loucos. E mesmo eu me descobrindo um pouco maluco ainda não era um assassino.
  Mesmo assim eu não ia fraquejar. Se fosse para morrer, que eu morresse com o mínimo de honra possível.
  Puxei o gatilho e atirei.
  Michael ficou de boca aberta por alguns segundos, voltando a si a tempo de desviar de um caminhão na autoestrada. Com a manobra ele se atrapalhou e sua arma voou pela janela do carro.
  Aproveitei esse deslize e novamente apontei a pistola para ele. Ele me olhou de canto de olho, suspirando.
  Trevor apalpava o corpo procurando onde a bala tinha lhe acertado:
 — Cadê? Cadê?!
  Michael falou para ele:
 — Será que você usou tanta metanfetamína que não percebeu que ele não atirou em você!
 — O quê? — exclamou Trevor.
 — No banco. — disse Michael.
  Trevor olhou para sua esquerda e viu o buraco no estofado. Mesmo com sua cara de maluco, pareceu aliviado e feliz.
  Disse então:
 — Esse cara é maluco, Mike?! Uhuuuuu!!!
 — Percebi. — disse Michael ainda olhando para mim.
 — Pare no acostamento. — falei para ele.
 — O cara agora vai querer apagar a gente, Mike!!! Adoro esse cara!
  Michael me obedeceu e parou o carro no acostamento.
 — Vamos descer. — eu disse tentando parecer o menos nervoso possível.
  Alternava a mira da pistola entre os dois.
  Saímos do carro e indiquei com aceno que queria os dois a minha frente. Trevor ainda estava em êxtase.
 — Nunca reparei como o ar puro é bom. — ele disse.
 — Tá falando do quê Trevor? — disse Michael parecendo irritado — Estamos em uma autoestrada próximos a cidade! Não tem ar puro aqui!
 — Mas tem ar, e eu posso respirá-lo Mike. — espirou o ar inflando o peito — Você devia aproveitar mais a vida.
  Michael olhou de cara fechada para mim e falou:
 — Vamos lá Nolan, faça alguma coisa.
  Eu não era assassino, mas também não queria morrer. Nesta situação, ou matava ou morria. Eles não se esqueceriam de mim.
  Foi quando me dei conta que existia uma terceira opção. Se eles haviam me sequestrado era por que precisavam de mim. Claro que eu sabia que pretendiam assaltar o banco em que eu trabalhava, mas ainda não sabia como pretendiam me usar.
 — O que eu preciso fazer no assalto?
  Trevor e Michael se olharam surpresos.
 — Vamos, quero saber o que eu teria que fazer?
  Michael sorriu da mesma forma que o vi sorrir na primeira vez que o vi, pela tela da minha TV. Disse:
 — Então você vai nos ajudar, Nolan?
  Era a única opção não-tão-extrema-em-que-eu-não-morria que eu tinha
  Apontei para o maluco, assassino, psicótico e drogado do Trevor.  Girei a pistola em minha mão, fazendo com quê o cano se voltasse para mim e o cabo para Trevor.
 — Pegue! — disse enquanto oferecia a pistola a ele.
  Ele a pegou de minha mão  com o sorriso mais assustador e psicótico que eu já havia visto. Por um instante temi que Trevor me matasse ali mesmo, mas ele guardou a pistola na calça.
 — Obrigado Nolan.
  Mas Michael não foi tão amigável. Assim que eu me vi desarmado ele sacou uma segunda arma que estava escondida na meia de seu sapato e veio para cima de mim colocando o cano na minha boca.
  A síndrome do pânico quase me tomou, mas lutei par controlá-la.
  Ameaçadoramente Michael falou:
 — Agora escuta aqui c@#@&#*! Você acha que sua ajuda é tão importante assim? Você acha mesmo que não conseguiríamos assaltar a p*##@ daquele banco sem sua ajuda?
  Droga, eu ia morrer.
  Mas para minha surpresa, Trevor correu em meu socorro colocando a mão no peito de Michael e o afastado de perto de mim.
 — Calma aí Mike! O cara é dos nossos. Vamos trabalhar juntos, ok? — abriu os braços sorridente — Como bons amigos!
  Michael olhou desconfiado para Travor, e em seguida baixou a arma.
 — Ok T.
  Trevor virou-se para mim tentando parecer amigável e disse:
 — Agora quer somos bons amigos...
  Antes que eu pudesse pensar em me proteger, a coronha da pistola acertou meu nariz em cheio. Sequer tinha caído no chão e já tive a certeza que meu nariz estava quebrado.
 — ... saiba que filho duma p%#@ nenhum quebra meu nariz e fica de boa! Da próxima vez eu te mato de verdade, seu p*##@!!!!!!!
  Levei a mão ao meu nariz tentando estancar o sangue que escorria. Meus olhos lacrimejavam por causa da dor. Mas quando olhei para cima, Trevor estava com a mão estendida para me ajudar a levantar. Sem escolha, segurei sua mão e ele me puxou para cima.
 — Agora estamos quites, camarada! — e para minha surpresa e terror, ele me abraçou — Quanto ao tiro, relaxe Nolan, faz parte dos negócios. Eu entendo.
  Não sei se me sentia aliviado ou mais assustado por ele considerar um nariz quebrado uma afronta maior que uma tentativa de assassinato.
  Michael olhou para mim:
 — Fique aqui. Vou ligar para meus parceiros e informar que você vai participar do golpe por livre e espontânea vontade, tudo bem?
  Eu apenas concordei com uma aceno.
  Minha cabeça latejava na nuca e meu nariz estava torto, mas pelo menos eu estava vivo.
  E novamente comecei a ter aquela sensação prazerosa de adrenalina percorrendo cada artéria do meu corpo.
  Trevor se virou para Michael enquanto ele esperava a pessoa do outro lado da linha atender.
 — Hei Mike, fala pro Franklin vir logo para cá. Tenho um esquema para tratar com ele. — Michael fez uma careta — Ah, e quando falar com o Lester, pergunte se tem como ele me ajudar com o lance dos chineses.
 — P%##@ T! Você vai mesmo falar todos os nomes para o Nolan ouvir?
 Trevor me olhou de uma forma completamente diferente, posso dizer que era até certo ponto doentia. Com uma voz rouca falou:
 — O nosso Nolan aqui agora faz parte do time, não é mesmo?
  Minha sorte só aumentava. Agora Trevor era meu “amigo”.
  Em dois encontros com ele eu já tinha visto o terror que ele era capaz de causar. E por uma estranha sorte, estava saindo “apenas” com uma concussão e um nariz quebrado. A mesma sorte não teve as pessoas que ele matou naquele dia no cruzamento.
    E quem sabe meu lucro podia ainda ser maior com essa parceria. Só precisava sobreviver.
 — Claro Trevor, somos um time.
  Só esperava não ter minha foto estampada na chamada de algum telejornal.

  Nem como criminoso... e nem como morto.

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