Como vocês já devem saber, meu nome é Nolan P. Character.
Vivo em Los Santos
há alguns anos. Porém uma onda de crimes tomou conta da cidade nos últimos
meses. Assaltos ousados, perseguições cinematográficas e assassinatos banais.
E eu aqui, vivendo
nesta loucura.
Semanas atrás, no
mesmo dia que recebi alta do hospital após ficar um mês internado depois de ser
atropelado por um jet-ski, um helicóptero caiu na casa de um dos meus vizinhos
matando todos que estavam ali, exceto o cachorro que estava no quintal. Outros
dois helicópteros haviam caído instantes antes próximos a minha rua. E eu
acompanhei tudo ao vivo pelo Telejornal.
Não sei se tinha
dito isso, mas eu amo todo e qualquer tipo de veículo de noticia. Sou viciado.
E provavelmente por isso ando tendo crises de pânico, já que as ultimas noticias
de Los Santos são no mínimo assustadoras.
Não tive tempo de
falar para vocês, mas sou gerente de uma agência bancária no Centro de Los
Santos. Não é a melhor profissão do mundo, mas não me sinto a vontade para
reclamar. Tenho um bom carro, boas roupas, uma boa casa e moro em um bom
bairro. Só não é bom quando helicópteros despencam em seus quintais.
Claro que não tenho
muita emoção em meu trabalho. Ele é maçante e estressante. E não tenho muitas
expectativas de crescimento. Mas como disse, eu não me sinto a vontade para
reclamar já que vivo bem. Além do mais, para quê mais emoção se ando tendo
essas malditas crises de pânico.
Então aqui estou eu;
pronto para mais um dia de trabalho.
O trânsito de Los
Santos é em determinados momentos extremamente confuso. Muita gente não
respeita os semáforos, fazem conversões proibidas e até trafegam nas calçadas.
E a polícia ignora toda e qualquer transgressão das leis de trânsito; contanto
que você não atropele ninguém e nem colida levemente em uma das viaturas. Pois
se isso ocorre, eles mandam até o exército atrás de você. Mas hoje estava tudo
na mais estranha normalidade.
Fui o primeiro a
chegar à agência, e graças a isso o raro silêncio reinava no ambiente.
Aproveitei para ler algumas noticias policiais pelo meu smartphone.
Como sempre o caos
reinou na noite anterior. Desta vez um homem sozinho havia sequestrado um avião
de carga em uma ação impressionante em pleno ar, utilizando-se apenas de
algumas armas e um avião de pequeno porte.
Alguns minutos depois o avião de carga despencou no deserto. Corpos de
funcionários da empresa foram encontrados, mas aparentemente o corpo do
criminoso responsável não.
Desliguei o celular
e fui pegar o café horrível da máquina automática. A cada dia eu tinha mais
medo de sair nas ruas de Los Santos, mas eu tinha que trabalhar, então eu
enfrentava o medo.
Meia hora depois
todos os funcionário já estavam em seus postos, e a agência abriu para o
atendimento. Mais um dia maçante de trabalho.
As 16hrs como de
praxe a agência fechou as portas para o atendimento ao público. Atendemos os
últimos clientes que ainda estavam na fila e outros funcionários se
encarregaram dos depósitos em envelopes e cheques. Terminei algumas tarefas
administrativas, e então às 18Hrs encerrei meu expediente.
Seguindo minha
rotina, entrei no meu carro, massageei as têmporas, dei a partida e saí do
estacionamento para funcionários da agência.
Estava uma noite
agradável, com muita gente andando pelas calçadas do centro da cidade. Às vezes
Los Santos era um paraíso, mas ultimamente a cidade era uma filial do inferno. Pelo
menos para mim.
Parei num semáforo que
estava no vermelho e um furgão preto que vinha segurando o trânsito parou a
minha frente. Não dei importância quando uma motocicleta verde parou do meu
lado na esquerda, mesmo ainda havendo mais espaço a frente. Naquele momento,
não me atentei a este fato.
Aproveitei que
estava parado para trocar a faixa do CD.
Foi quando ouvi:
— Hey!
Me levantei e olhei
pela janela. O condutor da motocicleta, um negro forte e mal encarado fazia
algum sinal para mim que eu não consegui entender.
Quando abri a boca
para responder me lembrei dele. Era um dos dois que estavam conversando na
calçada de casa no dia em que os helicópteros caíram. Lembro-me bem do cachorro
dele com instinto assassino.
Engatei a primeira
marcha para tentar fugir, mas ao olhar para frente vi que as portas traseiras
do baú do furgão estavam abertas.
Meu coração congelou
ao ver dois homens armados descendo do veículo.
Ou eu estava ficando
louco, ou eu estava reconhecendo também os dois homens que desceram do furgão.
Um era o maluco que havia causado o caos no cruzamento no mesmo dia em que os
helicópteros caíram. Além de ser o piloto do helicóptero que fugia da policia
naquele mesmo dia.
E o outro era o que operava
a .50 e que derrubou os helicópteros da policia e da reportagem.
Olhei para a
esquerda e agora o condutor da motocicleta apontava uma pistola para mim. Todos
os músculos do meu corpo se retesaram.
Os outros dois
homens que haviam descido do furgão vieram na direção do meu carro, um de cada
lado.
De uma forma
estranha me senti um pouco aliviado, pois o que veio para o meu lado era o mais
bem vestido. Claro que ele também era o homem que sorria após abater três
helicópteros.
O que foi para o
outro lado usava roupas surradas e sujas e tinha a cara mais psicótica que eu
já tinha visto. Tudo bem que foram suas roupas que me incomodaram, mas é claro
que eu não esquecia que ele costumava causar pânico em cruzamentos pela cidade.
Não sei se é
preconceito ou instinto, mas prefiro um maluco bem vestido a um psicótico
maltrapilho.
— Para o banco do
passageiro. — disse o negro da motocicleta.
Obedeci sem pensar,
e com isso deixei o carro morrer ao mudar de banco.
Não entendia ainda o
que estava acontecendo, pois com certeza isso não era um simples roubo de
carro. Havia algo mais.
O furgão partiu com
as portas traseiras ainda abertas, seguido pelo homem na motocicleta verde.
O mais bem vestido
abriu a porta do motorista e sentou-se enquanto o psicótico se sentou no banco
traseiro logo atrás de mim.
Impotente, vi um
estranho colocar meu carro em ponto morto, dar a partida, engatar a primeira
marcha e seguir para algum lugar que provavelmente seria onde eu seria morto.
Tentei controlar meu
ataque de pânico enquanto os dois pareciam me ignorar.
Nenhum dos dois
falou nada até que o carro saísse da avenida principal. O homem que estava
dirigindo falou:
— Qual o seu nome?
Eu permaneci imóvel
tentando respirar.
— Qual o seu nome, amigo?
— ele insistiu um pouco impaciente.
Continuei em
silêncio.
Ele então olhou pelo
retrovisor para o homem que estava sentado atrás de mim e disse:
— T!
Não tive muito tempo
para pensar no que significava a letra T, pois logo em seguida uma pancada seca
na minha nuca me deixou atordoado.
O psicótico atrás de
mim gritou:
— Você é surdo, Filho
da @#$*???
Levei a mão a nuca e
senti o sangue morno que empapou meu cabelo. O homem atrás de mim estava armado
e havia acabado de me dar uma coronhada.
Aquele que dirigia
meu carro falou:
— Pra que isso, T?
Não precisa agredir o cara! — olhou amigavelmente para mim — Me desculpe pelo
meu amigo, ele tende a perder o controle por besteira. Mas seria mais fácil se
você cooperasse. Para quê arriscar?
Decidi cooperar:
— Meu nome é Nolan.
O homem que estava
dirigindo sorriu para mim e disse:
—Prazer Nolan, meu
nome é... bem, pode me chamar de M. — ele sorriu — Bem Nolan, você deve estar
se perguntando por que estamos no seu carro. É simples, você foi sequestrado.
Se bem que acredito que já tenha percebido isso. A verdadeira pergunta é: Por
que te sequestramos?
Mesmo com a dor
lancinante, consegui pensar um pouco. Ainda que fosse uma pergunta retórica,
respondi:
— O banco. Vocês
pretendem me usar para assaltar o banco.
O homem atrás de mim
socou o teto do meu carro e gritou
—Oh yeah Michael!!!
Esse desgraçado é esperto!
— P*#@ que pariu T,
você é idiota? Acabou de falar meu nome, p*##@!!
— Ah Michael, fica
calmo!
— Claro TREVOR!!!
FICAREI CALMO! Se formos presos, será graças a sua genialidade!!!!
— Seu gordo do
c@##@$*, tá me chamando de burro?!?!
—Será que estou,
TREVOR!? Ou prefere que eu explique a você o que é sarcasmo?
O tal de Trevor, que
estava atrás de mim, apontou a arma para o tal de Michael e gritou:
— AGORA VOCÊ PASSOU
DOS LIMITES MICHAEL!
Michael então tirou
as mãos do volante e pisou fundo no acelerador. Foi então que percebi que
estávamos em uma autoestrada.
Pelo jeito eu ia morrer
num acidente de trânsito, e não baleado. Não sei se isso me confortava.
Michael olhou para
trás e disse:
— Vamos lá Trevor, me
mate!!! Realize esse seu desejo mórbido e depois se masturbe olhando para o
espelho, seu doente!
— Não jogue meus
fetiches na minha cara, Michael! Isso é golpe baixo!
O carro estava agora
a 190km/h! Vi mais a frente uma curva fechada! O desespero tomou conta de mim.
Enquanto isso, os
dois não paravam de discutir. Eu lutava para respirar.
— Michael, eu te
amava cara! Você era um herói para mim!!! E agora você se tornou esse babaca.
— Cala essa boca
suja, T!!! Você não ama nem seu pênis!!! Quantas doenças venéreas você já teve?
— Não te interessa
seu p*#*!!!
E a curva cada vez
mais próxima.
Foi quando, não sei
como, num rompante de fúria eu dei uma cotovelada no antebraço de Trevor. Com o
golpe ele soltou a pistola que rodopiou no ar. Antes que ela caísse no assoalho
do carro eu a peguei no ar. Ainda em meio a confusão e surpresa dele,
acertei-lhe uma coronhada no nariz. Ouvi o barulho da cartilagem se soltando do
osso com a pancada. Em seguida encostei o cano da pistola na bochecha de
Michael e gritei num tom de voz desconhecido até para mim:
— Calem suas malditas
bocas seus filhos da uma p%&@!!!! E Michael, vamos lá, dirija a droga do
meu carro!
Ele pegou o volante
e pisou no freio, conseguindo então fazer a curva. Apontei a pistola para o
Trevor e falei com falsa calma:
— E você, seu psicóticuzinho de merda! Qual o seu problema? Você sente algum prazer mórbido em agredir seus reféns?!
— E você, seu psicóticuzinho de merda! Qual o seu problema? Você sente algum prazer mórbido em agredir seus reféns?!
Para minha surpresa,
eu estava conseguindo respirar normalmente. Sentia a adrenalina nas minhas
veias, e estava adorando a sensação.
O tal de Trevor
tentava inutilmente recolocar seu nariz no lugar enquanto o sangue escorria
pelas narinas.
Porém enquanto eu
apontava a pistola para ele, Michael sem que eu percebesse sacou também uma
arma, apontando-a para mim.
Então se fez um
dilema: Eu apontava a pistola para o Trevor e o Michael apontava sua arma para
mim.
Me senti em um filme
de Tarantino.
Michael foi o
primeiro a falar:
— Se acalme Nolan,
ninguém quer morrer aqui, não é mesmo?
Eu mantive a pistola
apontada para Trevor, mas percebi que meu acesso de fúria não me ajudou muito.
Eles eram dois e ambos eram claramente loucos. E mesmo eu me descobrindo um
pouco maluco ainda não era um assassino.
Mesmo assim eu não
ia fraquejar. Se fosse para morrer, que eu morresse com o mínimo de honra
possível.
Puxei o gatilho e
atirei.
Michael ficou de
boca aberta por alguns segundos, voltando a si a tempo de desviar de um
caminhão na autoestrada. Com a manobra ele se atrapalhou e sua arma voou pela
janela do carro.
Aproveitei esse
deslize e novamente apontei a pistola para ele. Ele me olhou de canto de olho,
suspirando.
Trevor apalpava o
corpo procurando onde a bala tinha lhe acertado:
— Cadê? Cadê?!
Michael falou para
ele:
— Será que você usou
tanta metanfetamína que não percebeu que ele não atirou em você!
— O quê? — exclamou
Trevor.
— No banco. — disse
Michael.
Trevor olhou para
sua esquerda e viu o buraco no estofado. Mesmo com sua cara de maluco, pareceu
aliviado e feliz.
Disse então:
— Esse cara é maluco,
Mike?! Uhuuuuu!!!
— Percebi. — disse
Michael ainda olhando para mim.
— Pare no acostamento.
— falei para ele.
— O cara agora vai
querer apagar a gente, Mike!!! Adoro esse cara!
Michael me obedeceu
e parou o carro no acostamento.
— Vamos descer. — eu
disse tentando parecer o menos nervoso possível.
Alternava a mira da
pistola entre os dois.
Saímos do carro e
indiquei com aceno que queria os dois a minha frente. Trevor ainda estava em
êxtase.
— Nunca reparei como
o ar puro é bom. — ele disse.
— Tá falando do quê
Trevor? — disse Michael parecendo irritado — Estamos em uma autoestrada próximos
a cidade! Não tem ar puro aqui!
— Mas tem ar, e eu
posso respirá-lo Mike. — espirou o ar inflando o peito — Você devia aproveitar
mais a vida.
Michael olhou de
cara fechada para mim e falou:
— Vamos lá Nolan,
faça alguma coisa.
Eu não era
assassino, mas também não queria morrer. Nesta situação, ou matava ou morria.
Eles não se esqueceriam de mim.
Foi quando me dei
conta que existia uma terceira opção. Se eles haviam me sequestrado era por que
precisavam de mim. Claro que eu sabia que pretendiam assaltar o banco em que eu
trabalhava, mas ainda não sabia como pretendiam me usar.
— O que eu preciso
fazer no assalto?
Trevor e Michael se
olharam surpresos.
— Vamos, quero saber
o que eu teria que fazer?
Michael sorriu da
mesma forma que o vi sorrir na primeira vez que o vi, pela tela da minha TV. Disse:
— Então você vai nos
ajudar, Nolan?
Era a única opção
não-tão-extrema-em-que-eu-não-morria que eu tinha
Apontei para o
maluco, assassino, psicótico e drogado do Trevor. Girei a pistola em minha mão, fazendo com quê
o cano se voltasse para mim e o cabo para Trevor.
— Pegue! — disse
enquanto oferecia a pistola a ele.
Ele a pegou de minha
mão com o sorriso mais assustador e
psicótico que eu já havia visto. Por um instante temi que Trevor me matasse ali
mesmo, mas ele guardou a pistola na calça.
— Obrigado Nolan.
Mas Michael não foi
tão amigável. Assim que eu me vi desarmado ele sacou uma segunda arma que
estava escondida na meia de seu sapato e veio para cima de mim colocando o cano
na minha boca.
A síndrome do pânico
quase me tomou, mas lutei par controlá-la.
Ameaçadoramente
Michael falou:
— Agora escuta aqui
c@#@&#*! Você acha que sua ajuda é tão importante assim? Você acha mesmo
que não conseguiríamos assaltar a p*##@ daquele banco sem sua ajuda?
Droga, eu ia morrer.
Mas para minha
surpresa, Trevor correu em meu socorro colocando a mão no peito de Michael e o
afastado de perto de mim.
— Calma aí Mike! O
cara é dos nossos. Vamos trabalhar juntos, ok? — abriu os braços sorridente —
Como bons amigos!
Michael olhou
desconfiado para Travor, e em seguida baixou a arma.
— Ok T.
Trevor virou-se para
mim tentando parecer amigável e disse:
— Agora quer somos
bons amigos...
Antes que eu pudesse
pensar em me proteger, a coronha da pistola acertou meu nariz em cheio. Sequer
tinha caído no chão e já tive a certeza que meu nariz estava quebrado.
— ... saiba que filho
duma p%#@ nenhum quebra meu nariz e fica de boa! Da próxima vez eu te mato de
verdade, seu p*##@!!!!!!!
Levei a mão ao meu
nariz tentando estancar o sangue que escorria. Meus olhos lacrimejavam por
causa da dor. Mas quando olhei para cima, Trevor estava com a mão estendida
para me ajudar a levantar. Sem escolha, segurei sua mão e ele me puxou para
cima.
— Agora estamos
quites, camarada! — e para minha surpresa e terror, ele me abraçou — Quanto ao
tiro, relaxe Nolan, faz parte dos negócios. Eu entendo.
Não sei se me sentia
aliviado ou mais assustado por ele considerar um nariz quebrado uma afronta
maior que uma tentativa de assassinato.
Michael olhou para
mim:
— Fique aqui. Vou
ligar para meus parceiros e informar que você vai participar do golpe por livre
e espontânea vontade, tudo bem?
Eu apenas concordei
com uma aceno.
Minha cabeça
latejava na nuca e meu nariz estava torto, mas pelo menos eu estava vivo.
E novamente comecei
a ter aquela sensação prazerosa de adrenalina percorrendo cada artéria do meu
corpo.
Trevor se virou para
Michael enquanto ele esperava a pessoa do outro lado da linha atender.
— Hei Mike, fala pro
Franklin vir logo para cá. Tenho um esquema para tratar com ele. — Michael fez
uma careta — Ah, e quando falar com o Lester, pergunte se tem como ele me
ajudar com o lance dos chineses.
— P%##@ T! Você vai
mesmo falar todos os nomes para o Nolan ouvir?
Trevor me olhou de
uma forma completamente diferente, posso dizer que era até certo ponto doentia.
Com uma voz rouca falou:
— O nosso Nolan aqui
agora faz parte do time, não é mesmo?
Minha sorte só
aumentava. Agora Trevor era meu “amigo”.
Em dois encontros
com ele eu já tinha visto o terror que ele era capaz de causar. E por uma
estranha sorte, estava saindo “apenas” com uma concussão e um nariz quebrado. A
mesma sorte não teve as pessoas que ele matou naquele dia no cruzamento.
E quem sabe meu lucro podia ainda ser maior
com essa parceria. Só precisava sobreviver.
— Claro Trevor, somos
um time.
Só esperava não ter
minha foto estampada na chamada de algum telejornal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário