segunda-feira, 2 de junho de 2014

Contos dos Games #15 - GTA - Grandes Trapalhadas Anormais - Parte III

  Um sorriso insano está estampado em meu rosto.
  É involuntário.
  Este sorriso apenas demonstra o estranho prazer que estou sentindo agora.
  A onda de adrenalina ainda percorre o meu corpo, me fazendo sentir algo nunca antes provado por mim.
  Em minha mão direita seguro uma submetralhadora com fumaça saindo do cano.
  A minha volta centenas de projeteis deflagrados formam uma espécie de circulo.
  Estou em uma esquina próxima ao centro da cidade.
  Há sangue nas ruas.
  Há corpos sem vida nas calçadas.
  Há caos.
  E eu aqui, sentindo-me maravilhosamente bem por ser o responsável pela cena de terror desenhada ao meu redor.
  Eu me chamo Nolan P. Character.
  E este é um dos melhores dias da minha vida.

  (Duas horas antes)
  O plano de Michael foi realmente perfeito. A missão de entrar com uma peça da arma por dia na agência com o intuito de não levantar suspeitas e nem acionar o detector de metais foi um sucesso.
  Claro que precisei de duas semanas, mas enfim estou com todas as peças aqui comigo agora. Só tenho que lembrar como montar a pistola.
  Ainda me pergunto o que deu em mim para aceitar participar deste plano maluco. Mesmo sentindo uma estranha excitação com a chagada do dia de colocarmos o plano em prática, o medo ainda me incomodava um pouco.
  De acordo com o plano, eu devo deixar a pistola no banheiro para o Michael. E se der tudo certo, ninguém vai descobrir que eu estou envolvido.
  Olho para o relógio, 10:15h da manhã. Hora de ir ao banheiro e montar a pistola.
  Achei que teria mais dificuldades para montar usando as luvas de látex, mas como sempre Michael é perfeito, e de tanto me explicar quase me transformou em um expert na montagem de armas.
  Agora com a pistola montada com sucesso, basta escondê-la no lugar combinado, o lixinho do banheiro.
  Tudo bem que o Michael tinha razão em dizer que esse seria o único lugar que ninguém iria procurar, mas era extremamente nojento. Com uma careta e prendendo a respiração, enfiei a pistola no fundo do balde do lixinho. Picotei as luvas com uma tesourinha, joguei os pedaços no vaso e dei a descarga.
  Pronto, agora era com Michael, Franklin e com meu novo melhor amigo, Trevor.

  Exatamente às 11:00hrs Michael estrou na agência. Como combinado sequer me olhou, apenas pegou uma senha para ser atendido por um os gerentes, e se dirigiu em seguida ao banheiro
  Demorou uns 5 minutos até que Michael saísse de lá, e com certeza já estava com a arma na cintura.
  Às 11:15Hrs o detector de metais travou a porta giratória para algum cliente.
  Eu nem precisei olhar para saber quem era: Franklin.
  O detector de metais apitou mais três vezes, e os seguranças começaram a se dirigir até a porta. Franklin estava desempenhando bem o seu papel.
  Como se eu não soubesse o que estava acontecendo, me levantei e fui perguntar a um segurança o “por quê” da confusão.
 — Tem um crioulo tentando entrar aqui, mas pelo jeito tem algum dente de ouro ou bala alojada no corpo, pois mesmo tirando a carteira e as chaves o detector ainda informa a presença de metais. — o segurança olhou para mim e sorriu — Esses neguinhos não sabem que seu lugar é na senzala, não é Sr. Nolan?
  Eu não respondi, apenas continuei fitando a cena enquanto Franklin dava seu show.
  Começava a aparentar irritação e gritar que a escravidão já havia acabado, que ele tinha os mesmos direitos que os brancos, incluía em seu discurso o maior numero de gírias possíveis por frase
  Nunca havia visto um estereótipo tão bem representado.
  Olhei de canto de olho para Michael que se levantava e se dirigia até a aglomeração de seguranças.
  Era hora do show!

  Um dos seguranças falou para Franklin:
 — Senhor, por favor fique atrás da linha amarela. —
  Franklin obedeceu.
 — Agora senhor, será que não há mais nenhum objeto de metal com o senhor?
  Franklin pareceu ponderar um pouco e então falou:
 — Pensando bem, acho que você deve estar falando disso.
  Franklin então puxou da cintura uma submetralhadora. Todos os seguranças sacaram suas pistolas, mas antes que qualquer um pudesse fazer algo, Michael colou em um deles e levou a pistola que eu havia montado até a têmpora do coitado:
 — É o seguinte, se vocês não quiserem seu amiguinho aqui morto, acho bom todos jogarem suas armas no chão. E você aí que está escondido atrás da blindagem, destrave a porta giratória para o meu amigo e desça aqui.
  Os seguranças se entreolharam, e o chefe deles fez sinal para o segurança atrás da blindagem seguir as orientações de Michael.
  Enquanto o segurança destravava a porta, Michael se virou para o restante dos funcionários e para os poucos clientes que se encontravam gritando:
 — Agora todo mundo pro chão!!!!
  Franklin entrou na agência e deu uma coronhada no segurança que havia feito os comentários racistas há pouco:
 — Onde é mesmo meu lugar, seu F!#$% da P#*@?!?!
  O homem ficou caído no chão com sangue escorrendo de sua testa.
  Eu também me joguei no chão, mas Michael veio até mim e me puxou pelo colarinho.
 — Pode se levantar Nolan!!
  Não era esse o combinado. Eles não deveriam dizer meu nome e nem me envolver no assalto.
 — Eu não entendi senhor?
  Todos já me olhavam desconfiados. Michael não abrandou e disse:
 — Esquece o combinado Nolan. Precisamos que você nos ajude no assalto.
  Eu estava desnorteado quando Franklin me entregou uma automática e me disse:
 — Hey Nolan, me desculpe por isso. Foi ideia do Michael.
 Percebendo minha hesitação, tentou me consolar:
 — Você é dos nossos Nolan. Você pode fingir que é um cidadão de bem, mas você não é.  O que você fez aquele dia no carro com o Michael e com o Trevor não é normal. Você tem talento.
  Olhei para a automática na minha mão. Eu tremia ao perceber que agora todo mundo sabia que eu fazia parte do assalto. Não havia mais volta. Tudo fora perfeitamente planejado por Michael, até mesmo não me deixar de fora caso algo saísse errado. Agora eu estava intimamente envolvido, e tinha que me esforçar para nada dar errado.
  Olhei para Michael com ódio transparente. Ele apenas sorriu.
  Então apontei a automática para ele fazendo seu sorriso desaparecer.
  Então fui eu quem sorriu ao mudar a mira para um dos seguranças.
  Ele entendeu meu recado: “ Nada daria errado”.
 — Atenção bando de inúteis, acho bom ninguém se mexer ou eu descarrego todo o pente desta automática em uma só cabeça. Como você podem perceber, — olhei para Michael — eu não tenho mais nada a perder.

  Michael e Franklin correram até o cofre com um dos gerentes enquanto eu tomava conta do restante dos reféns.
  Um dos seguranças falou comigo:
— Quem diria que logo você hein Nolan?
  Olhei desafiadoramente para ele.
 — Por que “Quem diria”?
  Ele riu e disse:
 — Você sempre tão certinho, com medo até de se atrasar. Nunca sequer discutiu com um cliente. Você não tem perfil de quem mataria alguém.
  Ao dizer isso, o segurança ameaçou se levantar. Eu gritei:
 — Continue no chão!
  Ignorando minha ordem ele se levantou.
 — Você não vai atirar Nolan, não é a sua.
 — Já disse para não se levantar!
  Ele ficou de pé e começou a caminhar na minha direção.
 — Se eu continuar, você vai fazer o quê Nolan?
  Eu não queria! Eu realmente não queria! Foi mais forte que eu. A adrenalina percorreu meu corpo com um choque elétrico, e este choque contraiu meus músculos. Antes que eu pensasse, o som do disparo da automática ecoava na agência e o corpo do segurança tombava para o lado com seus miolos voando por trás de sua nuca.
  Alguns gritos de horror e choro se misturaram com o eco do disparo. Mesmo com toda confusão dentro de mim, minha feição continuou dura.
  Não sei explicar o que eu senti, mas o prazer foi inebriante.
  Talvez Franklin tivesse razão.
  Talvez eu fosse um deles.
  Foi ele mesmo que veio correndo do cofre e parou do meu lado perguntando:
 — Você tá bem?
  Me virei para ele para responder, mas ele pareceu se assustar com algo em meu rosto.
 — Sim Franklin, estou ótimo!
  Ele olhou para o corpo do segurança no chão e depois novamente para mim:
 — Ok.
  Voltou para o cofre com uma expressão preocupada.
  Já havia se passado 5 minutos quando os dois voltaram com algumas sacolas de dinheiro.
  Michael calmamente disse:
 — Vamos, pois o Trevor está chegando.
 — E qual é a parte dele no plano? — perguntei.
 — A mais divertida. — ele respondeu.

  Ao sair da agência ouvi o som alto de um motor logo acima de nossas cabeças. E para meu espanto, um helicóptero de guerra, armado com metralhadoras de grosso calibre e lança mísseis manobrava para aterrissar na avenida em frente a agência.
  Não sei como, mas a aeronave dava indícios que aterrissaria com sucesso entre prédios e postes de iluminação.
  Michael me puxou pela camisa e disse:
 — Olha o Trevor ali. Vamos.
  Eu entendia como havíamos entrado, roubado e também a nossa fuga. Eu só não entendia uma coisa:
 — Michael, — precisei gritar, pois o som do motor do helicóptero era ensurdecedor — e as câmeras de segurança? Não vão reconhecer seu rosto, ou do Franklin?
  Ele me olhou sorrindo e respondeu:
 — Meu amigo Lester já está apagando as imagens que foram enviadas para o servidor central.
  Mesmo assim, ainda havia falhas.
  — Mas Michael, e os servidores locais? Eles também gravam as imagens.
  —Não se preocupe Nolan. — ele respondeu ainda me puxando.
  Mas eu não estava satisfeito. Havia muitas falhas naquele plano.
 — E as testemunhas? Eles também podem te reconhecer?
  Seu sorriso tornou-se ainda mais maldoso:
 — Para isso o Trevor está aqui.
  Foi então que entendi o porquê do helicóptero de guerra.
  Entendi também porquê Michael deu um jeito de me tirar da agência.
  Por alguns segundos tive pena das pessoas lá dentro.
  Só por alguns segundos.
  A aeronave já estava imponente sem nenhum arranhão a nossa frente.
 
  Subimos no helicóptero e Trevor falou alegremente:
 — Pelo jeito deu tudo certo, hein Mike?
 — Sim, tudo certo.
 — E aí Nolan, se divertindo? — Trevor perguntou.
  Respondi:
 — Como nunca antes.
  Trevor subiu um pouco a aeronave e com um sorriso satisfeito falou:
 — Agora deixa eu fazer a minha parte!
  Apertou um gatilho nos controles do helicóptero e então houve caos na terra!
  Duas metralhadoras de calibre pesado presas no assoalho do helicóptero despedaçaram a agência. Não havia como saber quem estava sendo alvejado, só tive a certeza que poucos ainda estavam vivos.
  Trevor não tirou o dedo do gatilho até que as balas se acabaram.
  Eu acreditava que já havia acabado, mas Trevor me olhou e deu uma piscadela:
 — Agora, o meu grande momento!
  Acionou dois dispositivos no painel e então pressionou outro gatilho nos comandos.
  Não sei se foi medo ou excitação o que me tomou naquele momento, mas a cena a minha frente me levou a um mundo que com certeza não era o real.
  Mísseis em plena cidade.
  Um após um, com um pequeno rastro de fumaça até a atingir a agência. Não sei foram seis ou cinco, ou até mesmo oito. A única coisa que eu tive certeza era de que as seguidas explosões eliminaram todo e qualquer vestígio de vida que houvesse lá dentro.
  E claro, os servidores locais também.
  A agência que trabalhei por tantos anos.
  Os amigos que convivi por tanto tempo.
  Tudo agora era apenas uma bola de fogo e fumaça.
  Se bem que, eu nunca fui feliz naquela droga de agência, e também nunca tive amigos ali dentro.
  Ou seja, nada que realmente importasse para mim havia sido destruído.
  Franklin tinha toda a razão.
  Eu era um deles.
  Trevor interrompeu meu momento de descoberta:
 — Acho que o exército sentiu a falta do helicóptero deles.
  Dois helicópteros despontavam no horizonte.
  Trevor manobrou rápido e começou a fuga.
  Me lembrei do dia em que vi aqueles três pela primeira vez.
  Só esperava estar dentro de helicóptero que continuaria voando, e não dentro do que iria cair.



 (Continua...)

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