Eu sentia o gosto acre de sangue.
Meus pulmões
queimavam e minha respiração estava pesada.
Cada movimento doía.
E mesmo assim eu não
tinha medo. Mesmo com uma bala alojada no meu corpo, não havia medo.
A única coisa que eu
sentia agora era o poderoso desejo de sobrevivência.
Eu sabia que poderia
morrer. Mas não tinha sequer vestígio de medo.
Porém ainda maior
que o desejo de sobreviver era o desejo de vingança.
Eu poderia morrer,
mas não antes de matar aqueles três.
Meu nome é Nolan P.
Character.
E eu não pretendo
morrer hoje.
(Uma hora antes)
— Hey Nolan, coloque
o paraquedas. — instruiu Michael.
O encarei de olhos
esbugalhados:
— Como assim? Vocês
não vão enfrentar os helicópteros?
Os três se
entreolharam. Mas foi Franklin quem se adiantou em me explicar a situação:
— São helicópteros do
exército Nolan. Não temos chance no ar contra esses caras. Temos que tentar a
sorte no solo.
Eu gargalhei.
— Franklin, — disse
ainda no meio da gargalhada — vocês acreditam que se não temos chance no
helicóptero teremos mais chance no solo? Vocês est...
Fui interrompido por
tiros acertando a fuselagem da aeronave.
Trevor xingou meia
dúzia de palavrões e gritou:
— Seus idiotas, eu
não vou aguentar por muito tempo. Será que vocês podem colocar os paraquedas
logo!!!
Eu já estava mais
encrencado do que nunca. Mas minha irritação era maior que minhas preocupações:
— Espera um pouco, de
quem foi a brilhante idéia de utilizarmos um helicóptero do exército como meio
de fuga?
Nenhum dos três
respondeu.
— Vamos lá pessoal!
Eu apenas abri mão de minha vida para participar de um plano suicida e idiota,
que pelo visto foi bolado por um idiota ainda maior. Respondam-me apenas isso.
— A idéia foi do
Michael. — respondeu Trevor.
Michael olhou
irritado para o outro e revidou:
— A idéia do
helicóptero foi realmente minha. O que não foi minha idéia foi o assassinato de
um Tenente-Brigadeiro apenas para se conseguir os códigos de acesso do
helicóptero.
Trevor não deixou
por menos:
— Eles queriam mais
dinheiro, Mike querido! Não tive alternativa. Eles são mais sujos que nós. E
agora que descobriram que matei aquele F*&% da P*$#@ querem destruir o
helicóptero para não sobrar para eles. Eles vão nos der...
— Você sempre
fazendo merda T! — interrompeu Michael.
Trevor largou os
controles do helicóptero e desferiu um soco no rosto de Michael.
Me segurei com o
solavanco que se seguiu. Enquanto Michael e Trevor tentavam se esmurrar,
Franklin tentava apartar a briga sem muito sucesso.
Em meio a confusão
que se instaurou dentro da aeronave, ouvimos um bip no painel do helicóptero.
Todos pararam e
Trevor correu para olhar.
— Droga! Travaram a
mira de um míssil!
— E não tem como
desviar? — perguntou Franklin.
Ele sequer
respondeu. Apenas correu para os paraquedas.
— Acho melhor vocês
se apressarem.
Michael e Franklin
fizeram o mesmo.
Trevor colocou o
paraquedas e em seguida me encarou.
— Parece que hoje vai
ser o dia mais emocionante da sua vida, Nolan.
E saltou.
Franklin foi em
seguida e Michael ainda me olhou e disse antes de pular:
— Nolan, me desculpe
por isso.
Sem entender, corri
até o ultimo paraquedas que estava preso na lateral do helicóptero.
O curso ainda era
mantido pelo piloto automático, porém o bip se repetia cada vez com um
intervalo menor.
Foi quando meu
sangue gelou.
Os tiros dados pelos
outros helicópteros atravessaram a fuselagem e perfuraram o paraquedas deixado
para mim.
Ou seja, aqueles
três desgraçados me deixaram para morrer!
O bip estava
frenético e eu não tinha mais tempo a perder.
Coloquei o
paraquedas do jeito que pude e saltei.
Meu primeiro salto
de paraquedas, e claro, tinha que ser com um paraquedas perfurado.
Assim que saltei
ouvi o som que rasgava o ar e em seguida uma explosão violenta acima da minha
cabeça.
Ainda senti o calor
da explosão e em seguida o deslocamento de ar que me empurrou violentamente
para baixo, como se eu já não estivesse com um paraquedas furado.
Se era para morrer,
que fosse ridiculamente, não é mesmo?
Assim que pude, abri
o paraquedas e senti um puxão forte nos meus ombros. O ritmo da minha queda
diminuiu um pouco. Só um pouco.
Consegui olhar para
baixo, e o chão ainda se aproximava de forma assustadoramente rápida.
Notei que estava
acima de uma praia. Porém meu corpo se projetava em direção ao asfalto das
ruas, mas não do mar.
Senti o calor da
carcaça do helicóptero em chamas passando próximo a mim ao cair.
Novamente o
deslocamento de ar me sacudiu.
Tentei de todas as
formas virar o paraquedas para o mar, mas meus esforços eram inúteis.
Ouvi quando os
helicópteros que nos perseguiam passaram metros acima de onde eu estava, me
ignorando.
Pelo jeito era mais
importante destruir o helicóptero.
Decidi pensar nisso
depois, pois antes de tudo, precisava sobreviver.
Comecei
desesperadamente virar a direção da queda, mas eu continuava indo em direção a
cidade, rumo a morte no asfalto.
Estava quase
desistindo quando notei duas cordinhas, uma de cada lado de minha cabeça.
Mentalmente me
chamei de idiota e segurei as cordinhas com as mãos. Puxei a que estava do meu
lado direito e o paraquedas começou a se virar para esta direção, descrevendo
uma curva. A areia estava cada vez mais próxima.
Após preciosos 15
segundos, consegui dar uma volta de 180° e me virar para o mar.
A velocidade da
queda ainda era grande, e eu tinha certeza de que se não morresse, ia me
machucar um bocado.
Enquanto caía,
consegui ver a carcaça do helicóptero em chamas sumindo nas águas do mar.
Foi quando decidi
que se não tinha morrido na explosão, não iria morrer por causa de um
paraquedas furado.
O mar estava a menos
de 15 metros.
Comecei a prender a
respiração, mas não tive tempo. O impacto foi mais rápido e mais forte do que
eu havia calculado.
Por um momento
apenas espuma, pressão e dor. Olhei para todos os lados, mas não sabia para
onde era a superfície. As cordas do paraquedas se enrolavam em mim, me
atrapalhando ainda mais.
Eu iria morrer.
Desespero.
Você só entende
verdadeiramente o sentido desta palavra quando se está perdido debaixo da água,
sem saber para qual lado nadar e com os pulmões ardendo.
Tentei me acalmar e
pensar. Mas pelo jeito já não havia muito mais oxigênio em meu cérebro, pois
não conseguia pensar direito.
Foi quando mais uma
vez me senti um idiota e pensei no paraquedas.
Procurei as cordas
do paraquedas logo acima da minha cabeça e comecei a nadar nesta direção.
Após alguns segundos
comecei e ver o brilho do sol. Pelo menos estava na direção certa.
Conforme eu me
esforçava para voltar a superfície, senti meus pulmões quase explodindo.
Não enxergava mais,
apenas nadava como podia com o braço direito.
Então dei a ultima
braçada e tudo se apagou.
Tudo foi tomado pelo
silêncio e pela paz.
O sol queimava o meu
rosto quando voltei a si. Não sabia como, mas estava vivo e boiando próximo a
praia.
Olhei a minha volta
e o paraquedas boiava a minha frente, com as cordas ainda presas a mochila nas
minhas costas.
Soltei a mochila voltei-me
para a praia.
Uma multidão de
curiosos se aglomerava na areia, olhando na direção que, acredito eu, o
helicóptero havia caído. Por sorte ninguém prestou atenção em mim já que estava
um pouco distante do local da queda. Comecei a nadar em direção a praia, ainda
sem saber direito o que iria fazer.
Cheguei a areia e
obviamente chamei a atenção de alguns curiosos.
Uma mulher loira de
biquíni azul apontou para mim e gritou:
— Olha, ele deve ser um
daqueles homens que pularam de paraquedas!
Duas ou três pessoas
se voltaram na minha direção, mas antes que o escândalo da mulher continuasse,
corri em sua direção e desferi um belo soco na sua cara.
Ela desmoronou no
chão, e ouvi a exclamação de terror dos curiosos a minha volta. Olhei para cada
um deles e em seguida pisei na barriga da mulher. Chutei sua cara, pisei
novamente, chutei, pisei, pisei, chutei, pisei, chutei, chutei, chutei...
Quando voltei a mim,
eu ofegava e nenhum curioso mais me cercava. Todos corriam desesperados.
Meu sapato direito
por milagre ainda estava no meu pé. Mas ele não era mais marrom, era vermelho.
A cara da loira escandalosa agora era uma massa de carne e sangue. A areia em
volta da mulher estava tingida de vermelho.
Afundei meu rosto
nas mãos tentando pensar no que estava acontecendo comigo.
Tudo deu errado, e
eu pelo jeito, não era mais eu.
E eu estava
gostando.
Olhei novamente para
a mulher, e ao vê-la desfigurada, senti um prazer nunca antes provado por mim.
Tive medo e ao mesmo
tempo me orgulhei por eu mesmo estar me causando pavor.
A policia que
certamente estaria vindo isolar a área de um terrível acidente aéreo agora
também teria um agressor para perseguir. E este agressor, muito provavelmente
estava no helicóptero que caíra no mar.
O agressor, que era
eu, decidiu correr.
Corri com muita
dificuldade até a avenida a beira mar. Os curiosos não ficavam na minha frente.
Todos corriam.
Ofegante, olhei a
minha volta e dois policiais corriam na minha direção. Olhei para minha
esquerda e um motoqueiro acabava de estacionar sua motocicleta no meio fio.
Dez segundos despois
o motoqueiro estava no chão com o nariz quebrado e eu experimentava a emoção de
não parar em nenhum sinal vermelho.
Quando me aproximava
do centro, percebi que estava sendo perseguido. Olhei para trás para ver a
distância das viaturas e então decolei.
A motocicleta ficou
na lateral de um carro em um cruzamento e eu voei por cima do automóvel, por
cima da pista, por cima de um jardim e então me choquei com um arbusto que
aparentemente era feito de concreto.
Provavelmente
quebrei umas duas costelas e algum osso do pé. Durante uns bons segundos não
consegui levantar. Mas magicamente eu havia sobrevivido.
Desesperado tentei
me situar. O cruzamento em que tinha batido a motocicleta estava parado. As
viaturas estavam a pelo menos 1km de distância de onde eu estava. Olhei a minha
volta e uma loja me chamou a atenção: Uma Anmu Nation!
Por instinto corri mancando
ridiculamente até a loja. Tudo em meu corpo doía, mas eu não podia parar agora.
O atendente lia uma
revista quando foi surpreendido pela minha entrada.
Quebrei a vidraça do
mostruário de facas e peguei a que parecia mais afiada.
Antes que o homem
pudesse reagir pulei por sobre o balcão e levei a faca até pescoço do pobre.
— Agora, — eu disse
— vamos ser amigos, ok? Não tenho tempo a perder e você não quer perder a vida,
então quero duas submetralhadoras, que eu sei que você tem, e toda a munição
que eu conseguir carregar. AGORA!
O homem cambaleou
quando desencostei a lâmina de sua garganta. Pegou duas submetralhadoras que
estavam em um mostruário e jogou para mim. Peguei uma no ar e a outra caiu no
chão, ao meu lado.
Olhei feio para ele
enquanto me abaixava com nítido sacrifício para pegar a outra submetralhadora.
Em seguida, trêmulo,
me trouxe duas caixas cheias de pentes de munição.
Olhava assustado
para meu rosto, como se visse o próprio demônio.
Colocou a mão na
cintura e eu por instinto apontei a faca para ele. Ele fez sinal com a mão,
pedindo para eu aguardar.
— Calma. — me disse.
Da cintura tirou uma
pistola automática e então percebi que eu já era.
Apontou a pistola
para mim.
É claro que eu,
idiota que sou sequer imaginei que um atendente de loja de armas e munição
estaria armado.
Pois bem, era meu
fim.
Mas para a minha
surpresa, o homem girou a pistola na mão, de maneira que o cano ficasse
apontado para ele e o cabo para mim. Então me disse:
— Leve essa também.
Já está carregada.
Eu desconfiado não
me movi.
— Pegue. — ele insistiu — Você pode precisar.
Cautelosamente
peguei a pistola e a coloquei na cintura, igual ao atendente. As sirenes na rua
já se faziam ouvir.
Olhei discretamente
para a porta da loja e depois para o atendente. Perguntei a ele:
— Qual seu nome?
— Jonh.
— Obrigado Jonh. —
olhei novamente preocupado para a porta — Por que a ajuda? Você podia ter
atirado em mim.
— Sua cara e seu
estado me diziam que você estava disposto a tudo, e não tinha por que eu me
arriscar. Até agora sua cara me assusta. — agora foi ele quem olhou para a
porta da loja — E, bem, se é contra a polícia que você vai lutar, minha munição
vai ser bem empregada.
Fiz um aceno com a cabeça
e sorriu maliciosamente.
Quando estava saindo
ele me chamou:
— Hey. Leve um desses
também, vai ser bem útil. — e me jogou uma mini lança-granadas.
Já estava com a
pistola na cintura, segurei as duas submetralhadoras com uma mão, e com a
outra, a esquerda, segurei a lança-granadas. Mentalmente amaldiçoei o
atendente, mas sua intenção era boa, e era isso que valia quando se está
prestes a enfrentar a policia. Pelo menos, eu acho.
— Ela está carregada
com três granadas. — ele disse.
— Obrigado novamente
Jonh, e... é melhor se esconder.
Quando abri a porta
da loja de armas pelo menos cinco viaturas já cercavam o lugar com uns 15
policiais apontando suas armas para mim.
— Largue suas armas.
— gritou um deles por um megafone.
Eu devia ter sido
tomado pelo medo. Eu devia ter largado as armas no chão. Eu devia ter me
rendido.
Mas o que eu fiz foi
olhar a minha volta e procurar por alguma cobertura.
A adrenalina ativou
algum mecanismo secreto dentro de mim, e parte da dor desapareceu. Por instinto saltei para trás de uma mureta a minha esquerda.
Soltei ao meu lado as duas submetralhadoras e as caixas de munição. Empunhei a
lança-granadas.
Era uma boa
cobertura. Dava-me certa vantagem contra os policiais. Mas mesmo assim, eu era
apenas um.
— Ultima ordem:
Largue as armas! — gritaram novamente no megafone.
Ignorando a ordem,
olhei para a minha esquerda e vi duas viaturas bem próximas.
Tentando me esconder
o máximo possível, mirei a lança-granadas entre as duas viaturas e disparei.
O que se seguiu foi
uma chuva de tiros. E se não fosse a mureta, eu teria me tornado uma peneira.
Os policiais que se
protegiam nas duas viaturas a minha esquerda perceberam a granada quicando
entre os carros e começaram a correr.
O som dos disparos
dos policiais só foi interrompido pela explosão da granada. As duas viaturas e
pelo menos quatro policiais voaram pelo ar.
O que se seguiu foi
o caos na terra.
Um saraivada de
tiros ainda maior fez a mureta vibrar as minhas costas. Eu ouvia o som abafado
de cada tiro perfurando os blocos.
A minha frente
estava a loja de armas, que também era alvejada pelos incessantes tiros.
Sem mirar, coloquei
o cano da lança-granadas apoiado na mureta , sobre a minha cabeça e disparei.
Seguiu-se uma pequena
pausa nos disparos e uma nova explosão.
Pelo jeito mais uma
viatura havia explodido.
Peguei as duas
submetralhadoras e quando percebi, elas ainda não estavam carregadas. Os pentes
de munição ainda estavam na caixa.
Claro, só eu mesmo
para entrar em um tiroteio suicida sem carregar as armas.
As minhas costas, os
tiros voltaram com mais violência, e pelo jeito, a mureta não iria durar muito
mais.
Encaixei os pentes
nas submetralhadoras. Mas não tinha como disparar, já que os tiros não
cessavam.
Olhei para a
lança-granadas ao meu lado. Só tinha mais um disparo.
Peguei-a.
A mureta já estava
quente. Pelo jeito não duraria nem mais um minuto se continuasse nesse ritmo.
A minha direita
conseguia vislumbrar apenas a o vermelho de uma das sirenes.
Suspirei.
Teria que contar com
a sorte.
Segurei a
lança-granadas de lado, e a meia altura botei o cano apontado para onde eu
acreditava estar a viatura.
Puxei o gatilho.
A pausa nos tiros me
deu o sinal de que a sorte estava do meu lado. Antes da explosão peguei as duas
submetralhadoras e me pus de pé, aproveitando a momentânea hesitação dos
policiais.
A cena que se seguiu
poderia provavelmente já foi retratada em algum filme dos anos 80 e eu só a
estava revivendo.
Enquanto a granada
explodia, destruindo as ultimas duas viaturas, eu segurava as submetralhadoras com
os braços esticados para frente, apertando os gatilhos como se fosse a coisa
mais prazerosa do mundo.
Uma chuva de
cartuchos deflagrados voavam a minha volta. A minha frente as viaturas em
chamas davam um ar apocalíptico ao momento. Policiais tentavam correr e se
proteger de alguma forma, porém sem muito sucesso.
Eu não precisava
mirar, pois aqueles homens que antes atiravam em mim agora apenas caíam mortos
a minha frente.
O poder de matar era
realmente sedutor. E eu já estava seduzido por ele.
Minhas balas
acabaram. Sem me proteger eu me abaixei e peguei mais dois pentes de munição.
Os últimos policiais ainda vivos voltaram a atirar. Mas eu não temia, pois
alguma certeza absurda me dizia que eles iriam errar.
E erraram. Um por
um, erraram.
Encaixei os dois
pentes nas submetralhadoras e voltei a entoar a musica da morte.
E menos de um minuto
depois, não se via mais nenhum policia vivo.
A minha volta, o mais belo caos.
E eu, com as pupilas
dilatadas de prazer, era o causador de tão assustadora beleza.
Sorvendo o sabor de
ser o senhor da vida e da morte, soltei as duas submetralhadoras no chão e
suspirei, sentindo o cheiro de pólvora, gasolina e morte.
Ainda de olhos
fechados, sentindo o êxtase daquele momento, não entendi o impacto seco e
dolorido em meu peito.
Minhas pernas
bambearam e quando tentei abrir os olhos senti minha visão turva. Antes que
pudesse pensar, eu desabava no chão.
Atordoado e com uma
dor lancinante no lado esquerdo do peito, tentei girar meu corpo inutilmente.
Levei a mão direita ao ponto do impacto e senti o tecido de minha camisa
empapado. Olhei minha mão, e como eu imaginava, meu sangue manchava meus dedos.
Minha cabeça voltava
ao normal e eu tentava imaginar de onde o tiro havia partido.
Minha pergunta foi
respondida quando um policial, de no máximo 25 anos apareceu em meu campo de
visão.
Assustado me disse:
— Fique parado.
Apontando sua arma
ele caminhou até mim e chutou as submetralhadoras para longe.
Sua mão tremia
enquanto segurava a arma, e eu não entendia como ele havia acertado em cheio
meu peito. Provavelmente ele havia mirado em minha cabeça.
Eu disse a ele:
— Calma aí garoto,
vamos conversar.
— Cala a boca! —
gritou ele tentando firmar a mira em mim — Você viu o que você fez? Eu devia te
matar agora mesmo. Com toda essa destruição, eu poderia alegar legitima defesa
que qualquer tribunal do mundo me absolveria.
— Mas você não vai
fazer isso.
Ele cerrou os dentes
e falou:
— Por que não? O que
me impede?
— Por que se fosse
fazer, já teria feito, não ia me ameaçar.
— Ah é? O que te dá
tanta certeza?
— Logo seus reforços
vão chegar. Não tem por que você me matar, não é mesmo?
Mesmo com tamanha
dor, dobrei meu tronco e me sentei no chão. O policial gritou novamente:
— Não se mexa!!
Apertei meu
ferimento, fazendo uma careta.
— Calma rapaz, não
vou me mexer mais.
Ele continuou
apontando a arma, esperando os reforços chegarem. Eu não tinha muito tempo. Meus olhos lutavam
para se fechar.
O jovem policial
pareceu mais assustado quando meu queixo encostou no meu peito e meus
movimentos cessaram.
Não sei qual cara
fez quando meus braços desmontaram ao lado do meu corpo.
Em seguida, tombei
para o lado , enfim obedecendo ao desejo de enfim descansar.
O jovem policial
sentiu seu coração disparar quando viu o corpo sem vida do homem a sua frente
tombar para o lado.
Ofegava assustado,
afinal na sua primeira ronda já se envolvera em uma perseguição e vira uma
guerra urbana a sua frente. Presenciou apenas um homem dizimar sozinho quase quinze
policiais.
E enquanto seus
colegas morriam, ele permaneceu escondido atrás de carro do outro lado da rua.
Temeu quando uma das
viaturas explodiu cinco metros a sua direita, mas não se moveu.
Só quando a guerra
terminou que decidiu olhar para o homem. Viu que ele estava de olho fechado,
como se estivesse sentindo prazer com toda destruição a sua volta.
Tremendo pelo medo,
o jovem policial apontou sua arma e mirando na cabeça do homem disparou.
Errou. Mas por sorte
o tiro atingiu o homem no lado esquerdo do peito. Com sorte teria atingido o
coração.
Viu quando o homem
despencou no chão e foi até ele. Era sua obrigação deter aquele assassino.
Após um breve
diálogo, o homem que sozinho fizera todo aquele estrago tombara sem vida. Pelo
menos era isso que aparentava.
Mesmo sendo seu primeiro óbito, tentou se
acalmar e lembrar dos procedimentos.
Lembrando o que
tinha que fazer e ainda apontando a arma, se aproximou do homem e levou dois
dedos até a jugular dele.
Tenteou sentir
alguma pulsação... e sentiu.
Não sabia se era a
dele mesmo ou do homem. Será que este desgraçado ainda esta vivo?
Antes que pudesse
obter a resposta de um jeito mais amigável, sentiu o cano frio da pistola
encostando na parte de baixo de seu queixo.
Pensou em apertar o
gatilho de sua arma, mas não teve tempo.
Seu ultimo
pensamento foi: “Como sou idiota!”.
Eu tive pena do
jovem policial quando seus miolos voaram pelo ar e depois choveram no chão.
Mas não durou.
A respiração ainda
queimava e meu braço esquerdo estava inútil.
Por sorte o
atendente da loja me entregou a pistola, caso contrário, não teria a chance de
me safar do policial.
Com dificuldade
extrema me levantei e minha visão se turvou ainda mais. Ainda com a pistola na
mão caminhei cambaleando até uma rua que cruzava a da loja de armas. Já ouvia o
som de mais sirenes se aproximando.
Vi uma mulher atravessando
a rua com uma chave de carro na mão.
Como eu não teria
tempo de chegar até ela, apontei a pistola e disparei.
Atingi seu ombro.
Caminhei até ela, e
aos gritos ela me implorava para não matá-la. Peguei as chaves de sua mão e
apertei o botão do alarme. As lanternas de um esportivo branco piscaram.
Eu consegui sorrir.
Eu realmente não
iria matar a mulher, mas como ela não parava de gritar, disparei na cabeça da
pobre.
Pelo menos não
sentiu dor.
Abri a porta do
esportivo e entrei. Mesmo com a dor, eu sabia que minha única chance era fugir
dali o mais rápido possível.
Enquanto dava a
partida só três nomes vinham a minha mente:
Franklin, Michael e
Trevor.
Eu não sabia quando
e nem como, mas uma certeza eu tinha: Eles iriam morrer!
Não sei de onde eu tirei esse instinto
assassino, mas não importava. Agora que eu sabia que podia matar, e que fazia
isso bem, não tinha por que não me vingar daqueles traidores que me deixaram
para morrer.
Dei a partida e o
motor rosnou.
Era a primeira vez
que eu iria dirigir um esportivo, e não havia melhor ocasião do que essa.
No retrovisor vi
viaturas em alta velocidade vindo em minha direção.
Sorri e liguei o
rádio.
Um solo de saxofone
saiu dos alto-falantes do esportivo.
— Não. — falei — Hoje
vou ouvir algo diferente.
Sintonizei a Los
Santos Rádio Rock, e o solo de saxofone foi substituído por um de guitarra numa
virtuose exemplar.
Sorri e disse:
— Agora sim.
Engatei a primeira e
pisei no acelerador.
O som dos pneus cantando
combinavam harmoniosamente com o da guitarra e o das sirenes ao fundo.
(Continua...)
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