terça-feira, 5 de agosto de 2014

Contos dos Games #16 - GTA: Grandes Trapalhadas Anormais - Parte IV

  Eu sentia o gosto acre de sangue.
  Meus pulmões queimavam e minha respiração estava pesada.
  Cada movimento doía.
  E mesmo assim eu não tinha medo. Mesmo com uma bala alojada no meu corpo, não havia medo.
  A única coisa que eu sentia agora era o poderoso desejo de sobrevivência.
  Eu sabia que poderia morrer. Mas não tinha sequer vestígio de medo.
  Porém ainda maior que o desejo de sobreviver era o desejo de vingança.
  Eu poderia morrer, mas não antes de matar aqueles três.
  Meu nome é Nolan P. Character.
  E eu não pretendo morrer hoje.

   (Uma hora antes)
 — Hey Nolan, coloque o paraquedas. — instruiu Michael.
  O encarei de olhos esbugalhados:
 — Como assim? Vocês não vão enfrentar os helicópteros?
  Os três se entreolharam. Mas foi Franklin quem se adiantou em me explicar a situação:
 — São helicópteros do exército Nolan. Não temos chance no ar contra esses caras. Temos que tentar a sorte no solo.
  Eu gargalhei.
 — Franklin, — disse ainda no meio da gargalhada — vocês acreditam que se não temos chance no helicóptero teremos mais chance no solo? Vocês est...
  Fui interrompido por tiros acertando a fuselagem da aeronave.
  Trevor xingou meia dúzia de palavrões e gritou:
 — Seus idiotas, eu não vou aguentar por muito tempo. Será que vocês podem colocar os paraquedas logo!!!
  Eu já estava mais encrencado do que nunca. Mas minha irritação era maior que minhas preocupações:
 — Espera um pouco, de quem foi a brilhante idéia de utilizarmos um helicóptero do exército como meio de fuga?
  Nenhum dos três respondeu.
 — Vamos lá pessoal! Eu apenas abri mão de minha vida para participar de um plano suicida e idiota, que pelo visto foi bolado por um idiota ainda maior. Respondam-me apenas isso.
 — A idéia foi do Michael. — respondeu Trevor.
  Michael olhou irritado para o outro e revidou:
 — A idéia do helicóptero foi realmente minha. O que não foi minha idéia foi o assassinato de um Tenente-Brigadeiro apenas para se conseguir os códigos de acesso do helicóptero.
  Trevor não deixou por menos:
 — Eles queriam mais dinheiro, Mike querido! Não tive alternativa. Eles são mais sujos que nós. E agora que descobriram que matei aquele F*&% da P*$#@ querem destruir o helicóptero para não sobrar para eles. Eles vão nos der...
  — Você sempre fazendo merda T! — interrompeu Michael.
  Trevor largou os controles do helicóptero e desferiu um soco no rosto de Michael.
  Me segurei com o solavanco que se seguiu. Enquanto Michael e Trevor tentavam se esmurrar, Franklin tentava apartar a briga sem muito sucesso.
  Em meio a confusão que se instaurou dentro da aeronave, ouvimos um bip no painel do helicóptero.
  Todos pararam e Trevor correu para olhar.
 — Droga! Travaram a mira de um míssil!
 — E não tem como desviar? — perguntou Franklin.
  Ele sequer respondeu. Apenas correu para os paraquedas.
 — Acho melhor vocês se apressarem.
  Michael e Franklin fizeram o mesmo.
  Trevor colocou o paraquedas e em seguida me encarou.
 — Parece que hoje vai ser o dia mais emocionante da sua vida, Nolan.
  E saltou.
  Franklin foi em seguida e Michael ainda me olhou e disse antes de pular:
 — Nolan, me desculpe por isso.
  Sem entender, corri até o ultimo paraquedas que estava preso na lateral do helicóptero.
  O curso ainda era mantido pelo piloto automático, porém o bip se repetia cada vez com um intervalo menor.
  Foi quando meu sangue gelou.
  Os tiros dados pelos outros helicópteros atravessaram a fuselagem e perfuraram o paraquedas deixado para mim.
  Ou seja, aqueles três desgraçados me deixaram para morrer!
  O bip estava frenético e eu não tinha mais tempo a perder.
  Coloquei o paraquedas do jeito que pude e saltei.
  Meu primeiro salto de paraquedas, e claro, tinha que ser com um paraquedas perfurado.
  Assim que saltei ouvi o som que rasgava o ar e em seguida uma explosão violenta acima da minha cabeça.
  Ainda senti o calor da explosão e em seguida o deslocamento de ar que me empurrou violentamente para baixo, como se eu já não estivesse com um paraquedas furado.
  Se era para morrer, que fosse ridiculamente, não é mesmo?
  Assim que pude, abri o paraquedas e senti um puxão forte nos meus ombros. O ritmo da minha queda diminuiu um pouco. Só um pouco.
  Consegui olhar para baixo, e o chão ainda se aproximava de forma assustadoramente rápida.
  Notei que estava acima de uma praia. Porém meu corpo se projetava em direção ao asfalto das ruas, mas não do mar.
  Senti o calor da carcaça do helicóptero em chamas passando próximo a mim ao cair.
  Novamente o deslocamento de ar me sacudiu.
  Tentei de todas as formas virar o paraquedas para o mar, mas meus esforços eram inúteis.
  Ouvi quando os helicópteros que nos perseguiam passaram metros acima de onde eu estava, me ignorando.
  Pelo jeito era mais importante destruir o helicóptero.
  Decidi pensar nisso depois, pois antes de tudo, precisava sobreviver.
  Comecei desesperadamente virar a direção da queda, mas eu continuava indo em direção a cidade, rumo a morte no asfalto.
  Estava quase desistindo quando notei duas cordinhas, uma de cada lado de minha cabeça.
  Mentalmente me chamei de idiota e segurei as cordinhas com as mãos. Puxei a que estava do meu lado direito e o paraquedas começou a se virar para esta direção, descrevendo uma curva. A areia estava cada vez mais próxima.
  Após preciosos 15 segundos, consegui dar uma volta de 180° e me virar para o mar.
  A velocidade da queda ainda era grande, e eu tinha certeza de que se não morresse, ia me machucar um bocado.
  Enquanto caía, consegui ver a carcaça do helicóptero em chamas sumindo nas águas do mar.
  Foi quando decidi que se não tinha morrido na explosão, não iria morrer por causa de um paraquedas furado.
  O mar estava a menos de 15 metros.
  Comecei a prender a respiração, mas não tive tempo. O impacto foi mais rápido e mais forte do que eu havia calculado.
  Por um momento apenas espuma, pressão e dor. Olhei para todos os lados, mas não sabia para onde era a superfície. As cordas do paraquedas se enrolavam em mim, me atrapalhando ainda mais.
  Eu iria morrer.

  Desespero.
  Você só entende verdadeiramente o sentido desta palavra quando se está perdido debaixo da água, sem saber para qual lado nadar e com os pulmões ardendo.
  Tentei me acalmar e pensar. Mas pelo jeito já não havia muito mais oxigênio em meu cérebro, pois não conseguia pensar direito.
  Foi quando mais uma vez me senti um idiota e pensei no paraquedas.
  Procurei as cordas do paraquedas logo acima da minha cabeça e comecei a nadar nesta direção.
  Após alguns segundos comecei e ver o brilho do sol. Pelo menos estava na direção certa.
  Conforme eu me esforçava para voltar a superfície, senti meus pulmões quase explodindo.
  Não enxergava mais, apenas nadava como podia com o braço direito.
  Então dei a ultima braçada e tudo se apagou.
  Tudo foi tomado pelo silêncio e pela paz.

  O sol queimava o meu rosto quando voltei a si. Não sabia como, mas estava vivo e boiando próximo a praia.
  Olhei a minha volta e o paraquedas boiava a minha frente, com as cordas ainda presas a mochila nas minhas costas.
  Soltei a mochila voltei-me para a praia.
  Uma multidão de curiosos se aglomerava na areia, olhando na direção que, acredito eu, o helicóptero havia caído. Por sorte ninguém prestou atenção em mim já que estava um pouco distante do local da queda. Comecei a nadar em direção a praia, ainda sem saber direito o que iria fazer.
  Cheguei a areia e obviamente chamei a atenção de alguns curiosos.
  Uma mulher loira de biquíni azul apontou para mim e gritou:
 — Olha, ele deve ser um daqueles homens que pularam de paraquedas!
  Duas ou três pessoas se voltaram na minha direção, mas antes que o escândalo da mulher continuasse, corri em sua direção e desferi um belo soco na sua cara.
  Ela desmoronou no chão, e ouvi a exclamação de terror dos curiosos a minha volta. Olhei para cada um deles e em seguida pisei na barriga da mulher. Chutei sua cara, pisei novamente, chutei, pisei, pisei, chutei, pisei, chutei, chutei, chutei...
  Quando voltei a mim, eu ofegava e nenhum curioso mais me cercava. Todos corriam desesperados.
  Meu sapato direito por milagre ainda estava no meu pé. Mas ele não era mais marrom, era vermelho. A cara da loira escandalosa agora era uma massa de carne e sangue. A areia em volta da mulher estava tingida de vermelho.
  Afundei meu rosto nas mãos tentando pensar no que estava acontecendo comigo.
  Tudo deu errado, e eu pelo jeito, não era mais eu.
  E eu estava gostando.
  Olhei novamente para a mulher, e ao vê-la desfigurada, senti um prazer nunca antes provado por mim.
  Tive medo e ao mesmo tempo me orgulhei por eu mesmo estar me causando pavor.

  A policia que certamente estaria vindo isolar a área de um terrível acidente aéreo agora também teria um agressor para perseguir. E este agressor, muito provavelmente estava no helicóptero que caíra no mar.
  O agressor, que era eu, decidiu correr.
  Corri com muita dificuldade até a avenida a beira mar. Os curiosos não ficavam na minha frente. Todos corriam.
  Ofegante, olhei a minha volta e dois policiais corriam na minha direção. Olhei para minha esquerda e um motoqueiro acabava de estacionar sua motocicleta no meio fio.
  Dez segundos despois o motoqueiro estava no chão com o nariz quebrado e eu experimentava a emoção de não parar em nenhum sinal vermelho.

  Quando me aproximava do centro, percebi que estava sendo perseguido. Olhei para trás para ver a distância das viaturas e então decolei.
  A motocicleta ficou na lateral de um carro em um cruzamento e eu voei por cima do automóvel, por cima da pista, por cima de um jardim e então me choquei com um arbusto que aparentemente era feito de concreto.
  Provavelmente quebrei umas duas costelas e algum osso do pé. Durante uns bons segundos não consegui levantar. Mas magicamente eu havia sobrevivido.
  Desesperado tentei me situar. O cruzamento em que tinha batido a motocicleta estava parado. As viaturas estavam a pelo menos 1km de distância de onde eu estava. Olhei a minha volta e uma loja me chamou a atenção: Uma Anmu Nation!
  Por instinto corri mancando ridiculamente até a loja. Tudo em meu corpo doía, mas eu não podia parar agora.
  O atendente lia uma revista quando foi surpreendido pela minha entrada.
  Quebrei a vidraça do mostruário de facas e peguei a que parecia mais afiada.
  Antes que o homem pudesse reagir pulei por sobre o balcão e levei a faca até pescoço do pobre.
  — Agora, — eu disse — vamos ser amigos, ok? Não tenho tempo a perder e você não quer perder a vida, então quero duas submetralhadoras, que eu sei que você tem, e toda a munição que eu conseguir carregar. AGORA!
  O homem cambaleou quando desencostei a lâmina de sua garganta. Pegou duas submetralhadoras que estavam em um mostruário e jogou para mim. Peguei uma no ar e a outra caiu no chão, ao meu lado.
  Olhei feio para ele enquanto me abaixava com nítido sacrifício para pegar a outra submetralhadora.
  Em seguida, trêmulo, me trouxe duas caixas cheias de pentes de munição.
  Olhava assustado para meu rosto, como se visse o próprio demônio.
  Colocou a mão na cintura e eu por instinto apontei a faca para ele. Ele fez sinal com a mão, pedindo para eu aguardar.
  — Calma. — me disse.
  Da cintura tirou uma pistola automática e então percebi que eu já era.
  Apontou a pistola para mim.
  É claro que eu, idiota que sou sequer imaginei que um atendente de loja de armas e munição estaria armado.
  Pois bem, era meu fim.
  Mas para a minha surpresa, o homem girou a pistola na mão, de maneira que o cano ficasse apontado para ele e o cabo para mim. Então me disse:
 — Leve essa também. Já está carregada.
  Eu desconfiado não me movi.
 — Pegue.  — ele insistiu — Você pode precisar.
  Cautelosamente peguei a pistola e a coloquei na cintura, igual ao atendente. As sirenes na rua já se faziam ouvir.
  Olhei discretamente para a porta da loja e depois para o atendente. Perguntei a ele:
 — Qual seu nome?
 — Jonh.
 — Obrigado Jonh. — olhei novamente preocupado para a porta — Por que a ajuda? Você podia ter atirado em mim.
  — Sua cara e seu estado me diziam que você estava disposto a tudo, e não tinha por que eu me arriscar. Até agora sua cara me assusta. — agora foi ele quem olhou para a porta da loja — E, bem, se é contra a polícia que você vai lutar, minha munição vai ser bem empregada.
  Fiz um aceno com a cabeça e sorriu maliciosamente.
  Quando estava saindo ele me chamou:
 — Hey. Leve um desses também, vai ser bem útil. — e me jogou uma mini lança-granadas.
  Já estava com a pistola na cintura, segurei as duas submetralhadoras com uma mão, e com a outra, a esquerda, segurei a lança-granadas. Mentalmente amaldiçoei o atendente, mas sua intenção era boa, e era isso que valia quando se está prestes a enfrentar a policia. Pelo menos, eu acho.
 — Ela está carregada com três granadas. — ele disse.
 — Obrigado novamente Jonh, e... é melhor se esconder.
  Quando abri a porta da loja de armas pelo menos cinco viaturas já cercavam o lugar com uns 15 policiais apontando suas armas para mim.
 — Largue suas armas. — gritou um deles por um megafone.

  Eu devia ter sido tomado pelo medo. Eu devia ter largado as armas no chão. Eu devia ter me rendido.
  Mas o que eu fiz foi olhar a minha volta e procurar por alguma cobertura.
  A adrenalina ativou algum mecanismo secreto dentro de mim, e parte da dor desapareceu. Por instinto saltei para trás de uma mureta a minha esquerda. Soltei ao meu lado as duas submetralhadoras e as caixas de munição. Empunhei a lança-granadas.
  Era uma boa cobertura. Dava-me certa vantagem contra os policiais. Mas mesmo assim, eu era apenas um.
 — Ultima ordem: Largue as armas! — gritaram novamente no megafone.
  Ignorando a ordem, olhei para a minha esquerda e vi duas viaturas bem próximas.
  Tentando me esconder o máximo possível, mirei a lança-granadas entre as duas viaturas e disparei.
  O que se seguiu foi uma chuva de tiros. E se não fosse a mureta, eu teria me tornado uma peneira.
  Os policiais que se protegiam nas duas viaturas a minha esquerda perceberam a granada quicando entre os carros e começaram a correr.
  O som dos disparos dos policiais só foi interrompido pela explosão da granada. As duas viaturas e pelo menos quatro policiais voaram pelo ar.
  O que se seguiu foi o caos na terra.
  Um saraivada de tiros ainda maior fez a mureta vibrar as minhas costas. Eu ouvia o som abafado de cada tiro perfurando os blocos.
  A minha frente estava a loja de armas, que também era alvejada pelos incessantes tiros.
  Sem mirar, coloquei o cano da lança-granadas apoiado na mureta , sobre a minha cabeça e disparei.
  Seguiu-se uma pequena pausa nos disparos e uma nova explosão.
  Pelo jeito mais uma viatura havia explodido.
  Peguei as duas submetralhadoras e quando percebi, elas ainda não estavam carregadas. Os pentes de munição ainda estavam na caixa.
  Claro, só eu mesmo para entrar em um tiroteio suicida sem carregar as armas.
  As minhas costas, os tiros voltaram com mais violência, e pelo jeito, a mureta não iria durar muito mais.
  Encaixei os pentes nas submetralhadoras. Mas não tinha como disparar, já que os tiros não cessavam.
  Olhei para a lança-granadas ao meu lado. Só tinha mais um disparo.
  Peguei-a.
  A mureta já estava quente. Pelo jeito não duraria nem mais um minuto se continuasse nesse ritmo.
  A minha direita conseguia vislumbrar apenas a o vermelho de uma das sirenes.
  Suspirei.
  Teria que contar com a sorte.
  Segurei a lança-granadas de lado, e a meia altura botei o cano apontado para onde eu acreditava estar a viatura.
  Puxei o gatilho.
  A pausa nos tiros me deu o sinal de que a sorte estava do meu lado. Antes da explosão peguei as duas submetralhadoras e me pus de pé, aproveitando a momentânea hesitação dos policiais.
  A cena que se seguiu poderia provavelmente já foi retratada em algum filme dos anos 80 e eu só a estava revivendo.
  Enquanto a granada explodia, destruindo as ultimas duas viaturas, eu segurava as submetralhadoras com os braços esticados para frente, apertando os gatilhos como se fosse a coisa mais prazerosa do mundo.
  Uma chuva de cartuchos deflagrados voavam a minha volta. A minha frente as viaturas em chamas davam um ar apocalíptico ao momento. Policiais tentavam correr e se proteger de alguma forma, porém sem muito sucesso.
  Eu não precisava mirar, pois aqueles homens que antes atiravam em mim agora apenas caíam mortos a minha frente.
  O poder de matar era realmente sedutor. E eu já estava seduzido por ele.
  Minhas balas acabaram. Sem me proteger eu me abaixei e peguei mais dois pentes de munição. Os últimos policiais ainda vivos voltaram a atirar. Mas eu não temia, pois alguma certeza absurda me dizia que eles iriam errar.
  E erraram. Um por um, erraram.
  Encaixei os dois pentes nas submetralhadoras e voltei a entoar a musica da morte.
  E menos de um minuto depois, não se via mais nenhum policia vivo.
  A minha volta, o mais belo caos.
  E eu, com as pupilas dilatadas de prazer, era o causador de tão assustadora beleza.
  Sorvendo o sabor de ser o senhor da vida e da morte, soltei as duas submetralhadoras no chão e suspirei, sentindo o cheiro de pólvora, gasolina e morte.
  Ainda de olhos fechados, sentindo o êxtase daquele momento, não entendi o impacto seco e dolorido em meu peito.
  Minhas pernas bambearam e quando tentei abrir os olhos senti minha visão turva. Antes que pudesse pensar, eu desabava no chão.
  Atordoado e com uma dor lancinante no lado esquerdo do peito, tentei girar meu corpo inutilmente. Levei a mão direita ao ponto do impacto e senti o tecido de minha camisa empapado. Olhei minha mão, e como eu imaginava, meu sangue manchava meus dedos.
  Minha cabeça voltava ao normal e eu tentava imaginar de onde o tiro havia partido.
  Minha pergunta foi respondida quando um policial, de no máximo 25 anos apareceu em meu campo de visão.
  Assustado me disse:
 — Fique parado.
  Apontando sua arma ele caminhou até mim e chutou as submetralhadoras para longe.
  Sua mão tremia enquanto segurava a arma, e eu não entendia como ele havia acertado em cheio meu peito. Provavelmente ele havia mirado em minha cabeça.
  Eu disse a ele:
 — Calma aí garoto, vamos conversar.
 — Cala a boca! — gritou ele tentando firmar a mira em mim — Você viu o que você fez? Eu devia te matar agora mesmo. Com toda essa destruição, eu poderia alegar legitima defesa que qualquer tribunal do mundo me absolveria.
 — Mas você não vai fazer isso.
  Ele cerrou os dentes e falou:
 — Por que não? O que me impede?
 — Por que se fosse fazer, já teria feito, não ia me ameaçar.
 — Ah é? O que te dá tanta certeza?
 — Logo seus reforços vão chegar. Não tem por que você me matar, não é mesmo?
  Mesmo com tamanha dor, dobrei meu tronco e me sentei no chão. O policial gritou novamente:
 — Não se mexa!!
  Apertei meu ferimento, fazendo uma careta.
 — Calma rapaz, não vou me mexer mais.
  Ele continuou apontando a arma, esperando os reforços chegarem.  Eu não tinha muito tempo. Meus olhos lutavam para se fechar.
  O jovem policial pareceu mais assustado quando meu queixo encostou no meu peito e meus movimentos cessaram.
  Não sei qual cara fez quando meus braços desmontaram ao lado do meu corpo.
  Em seguida, tombei para o lado , enfim obedecendo ao desejo de enfim descansar.
 
  O jovem policial sentiu seu coração disparar quando viu o corpo sem vida do homem a sua frente tombar para o lado.
  Ofegava assustado, afinal na sua primeira ronda já se envolvera em uma perseguição e vira uma guerra urbana a sua frente. Presenciou apenas um homem dizimar sozinho quase quinze policiais.
  E enquanto seus colegas morriam, ele permaneceu escondido atrás de carro do outro lado da rua.
  Temeu quando uma das viaturas explodiu cinco metros a sua direita, mas não se moveu.
  Só quando a guerra terminou que decidiu olhar para o homem. Viu que ele estava de olho fechado, como se estivesse sentindo prazer com toda destruição a sua volta.
  Tremendo pelo medo, o jovem policial apontou sua arma e mirando na cabeça do homem disparou.
  Errou. Mas por sorte o tiro atingiu o homem no lado esquerdo do peito. Com sorte teria atingido o coração.
  Viu quando o homem despencou no chão e foi até ele. Era sua obrigação deter aquele assassino.
  Após um breve diálogo, o homem que sozinho fizera todo aquele estrago tombara sem vida. Pelo menos era isso que aparentava.
  Mesmo sendo seu primeiro óbito, tentou se acalmar e lembrar dos procedimentos.
  Lembrando o que tinha que fazer e ainda apontando a arma, se aproximou do homem e levou dois dedos até a jugular dele.
  Tenteou sentir alguma pulsação... e sentiu.
  Não sabia se era a dele mesmo ou do homem. Será que este desgraçado ainda esta vivo?
  Antes que pudesse obter a resposta de um jeito mais amigável, sentiu o cano frio da pistola encostando na parte de baixo de seu queixo.
  Pensou em apertar o gatilho de sua arma, mas não teve tempo.
  Seu ultimo pensamento foi: “Como sou idiota!”.
 
  Eu tive pena do jovem policial quando seus miolos voaram pelo ar e depois choveram no chão.
  Mas não durou.
  A respiração ainda queimava e meu braço esquerdo estava inútil.
  Por sorte o atendente da loja me entregou a pistola, caso contrário, não teria a chance de me safar do policial.
  Com dificuldade extrema me levantei e minha visão se turvou ainda mais. Ainda com a pistola na mão caminhei cambaleando até uma rua que cruzava a da loja de armas. Já ouvia o som de mais sirenes se aproximando.
  Vi uma mulher atravessando a rua com uma chave de carro na mão.
  Como eu não teria tempo de chegar até ela, apontei a pistola e disparei.
  Atingi seu ombro.
  Caminhei até ela, e aos gritos ela me implorava para não matá-la. Peguei as chaves de sua mão e apertei o botão do alarme. As lanternas de um esportivo branco piscaram.
  Eu consegui sorrir.
  Eu realmente não iria matar a mulher, mas como ela não parava de gritar, disparei na cabeça da pobre.
  Pelo menos não sentiu dor.
  Abri a porta do esportivo e entrei. Mesmo com a dor, eu sabia que minha única chance era fugir dali o mais rápido possível.
  Enquanto dava a partida só três nomes vinham a minha mente:
  Franklin, Michael e Trevor.
  Eu não sabia quando e nem como, mas uma certeza eu tinha: Eles iriam morrer!
  Não sei de onde eu tirei esse instinto assassino, mas não importava. Agora que eu sabia que podia matar, e que fazia isso bem, não tinha por que não me vingar daqueles traidores que me deixaram para morrer.
  Dei a partida e o motor rosnou.
  Era a primeira vez que eu iria dirigir um esportivo, e não havia melhor ocasião do que essa.
  No retrovisor vi viaturas em alta velocidade vindo em minha direção.
  Sorri e liguei o rádio.
  Um solo de saxofone saiu dos alto-falantes do esportivo.
 — Não. — falei — Hoje vou ouvir algo diferente.
  Sintonizei a Los Santos Rádio Rock, e o solo de saxofone foi substituído por um de guitarra numa virtuose exemplar.
  Sorri e disse:
 — Agora sim.
  Engatei a primeira e pisei no acelerador.
  O som dos pneus cantando combinavam harmoniosamente com o da guitarra e o das sirenes ao fundo.


(Continua...)

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